Posto do Bolsa Família realiza atendimentos
diários em
Limoeiro
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Beneficiária está sem poder
comprar os remédios para a filha, que tem epilepsia
Das 20 cadeiras de plástico que
ficam no posto do Bolsa Família em Limoeiro de Anadia (AL), 11 estão ocupadas
por volta das 9h de uma sexta-feira. O único ruído no local é o de dois
ventiladores de parede, que tentam amenizar o calor de mais de 30º C. As revistas
da sala, todas sem capa, trazem fofocas de 2010. As pessoas se abanam e
esperam. Olham para a parede branca, em silêncio.
O objetivo da maioria delas é
continuar recebendo o benefício, já que há moradores da cidade que foram
excluídos do programa em 2015 e, por conta disso, estão enfrentando
dificuldades para comprar itens como comida e remédios.
É o caso de Cleonice Tenório de
Moura, 58 anos. Aposentada, não sabe ler nem escrever e trabalhou a vida toda
cortando cana. Ela entrou no programa ganhando R$ 70 por mês, mas não recebe
mais nada desde outubro, quando seu benefício era de R$ 105.
Em sua casa — uma antiga
lavanderia da prefeitura transformada em duas moradias —, ela divide um único
cômodo com a filha de 28 anos e cuida dos netos de 7 e 9.
— Minha filha é doente, mas
ninguém descobre o que ela tem. Eu ganho um salário por mês, mas não consigo
manter a minha filha. Ela toma um remédio [para epilepsia] todo dia. Me
disseram que tem como pedir para rever [o benefício]. Vamos ver.
Cleonice foi deixada pelo marido
há anos com três filhos e dedica boa parte do dia à caçula, de quem cuida.
Naquela sexta, ela tinha acordado
às 5h para levar Maria José ao posto instalado pelo Bandeira Científica —
projeto da USP (Universidade de São Paulo) que leva atendimento médicos a
regiões carentes —, em mais uma tentativa para descobrir a doença da jovem.
— Ninguém descobre. Já fui em
muitos médicos e ela tem dificuldade, não tem como trabalhar. Assim, só com o
salário da aposentadoria não consigo manter.
Na mira da crise
A 110 km de Maceió, no agreste
alagoano, Limoeiro de Anadia tem 27 mil habitantes. No ano passado, 5.116
pessoas foram contempladas pelo Bolsa Família, segundo o Portal da
Transparência, num gasto total de R$ 10 milhões.
Essa conta, no entanto, inclui
pessoas que já não recebem o dinheiro. Atualmente, mais de 4.000 famílias
contam com o benefício, segundo o coordenador do Bolsa Família na cidade,
Genésio Lira — outras 500 aguardam para entrar na lista. Considerando que cada
família tem, em média, quatro pessoas, então mais da metade da cidade é
beneficiária, sendo que 1.414 famílias recebem a verba desde 2004.
Assim como Cleonice, Katian
Mendonça da Silva, de 28 anos, também perdeu o benefício.
Mãe de três filhos — de 8, 9 e 13
anos —, o auxílio de R$ 342 mensais foi cortado há três meses, segundo ela.
— Meu marido começou a trabalhar
carregando caminhão, mas esse dinheiro faz falta. Disseram que não teve como
manter o meu benefício, mas sei de casos parecidos que conseguiram continuar.
Era a minha salvação para comprar as coisinhas deles.
Segundo Lira, casos como esses são
comuns e nem sempre é possível reverter o corte.
— O corte normalmente ocorre por
algum problema de condicionalidade nas escolas ou acompanhamento de saúde dos
filhos. São casos em que as famílias não têm mais o perfil. Nós atendemos uma a
uma para ver se tem como resgatar.
Lira diz que o município recebe R$
900 mil mensais para dividir entre os beneficiários.
— Nunca é suficiente, mas ajuda
bastante.
Por causa da recessão econômica, o
Bolsa Família correu o risco de sofrer um corte de R$ 10 bilhões neste ano. A
ideia era do relator do orçamento na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR),
que previa enxugar o programa de R$ 28,8 para R$ 18 bilhões.
O texto final, no entanto, foi aprovado sem o corte. E o programa
acabou ganhando um montante extra de R$ 1,1 bilhão em 2016. O reajuste para
cada beneficiário, contudo, deve ficar abaixo da inflação.
As mudanças na cidade
Lira, que nasceu e mora em
Limoeiro, conta que as crianças foram as mais beneficiadas pelo Bolsa Família
na região.
— Aqui tinha muito caso de criança
trabalhando desde bem pequena. Em geral, temos chefes de família grande e a
fonte de renda é agricultura e essas crianças estavam na roça e não na escola.
Segundo o governo federal, podem
se beneficiar com o programa famílias em situação de pobreza (renda por pessoa
entre R$ 77,01 a R$ 154,00) ou extrema pobreza (renda por pessoa de até R$
77,00 por mês) e que tenham em sua composição gestantes, mães que amamentam,
crianças ou adolescentes entre 0 e 17 anos.
Cledlayne Pereira do Nascimento,
33 anos, se enquadra nesse perfil. Ela e o marido não possuem renda fixa e têm
seis filhos: José Artur, nove meses; Joana Caroline, dois anos; José Cícero,
quatro anos; Maria Larissa, seis anos; Silvestre Miguel, oito anos e Nicole
Vitória, 12 anos. Recebe R$ 538 por mês.
Com 13 irmãos, a mulher chegou a
frequentar a escola quando criança, mas não terminou os estudos. No entanto,
hoje não deixa nenhum deles faltar a aula.
— Meus filhos todos vão para
escola. Tem que levar, tem que cuidar direito.
Segundo ela, a maior dificuldade
que a família enfrenta é com a casa da família. Cledlayne conta que todos vivem
em uma casa que era da família do marido, mas as condições são muito ruins.
— A minha casa fica no fim dessa
rua. É uma que está caindo uns pedaços. Isso é difícil, mas a gente dá um
jeito.
No vilarejo de Chapéu do Sol,
Lucília dos Santos Silva, 27 anos, também conta com o benefício do Bolsa
Família. Com dois filhos — uma de 7 em um de 9 —, os R$ 134 mensais compõem a
renda familiar. O marido corta cana na região, mas só tem trabalho durante uma
parte do ano.
— É um dinheiro que faz diferença,
porque meu marido fica seis meses do ano parado.
Genésio Lira explica que esse
perfil de trabalhador é muito comum na região.
— Temos todo tipo de família no
Bolsa. Muitos dos chefes de família não chegam a ser analfabetos, mas não
terminaram a escola. A cidade vive de usinas e do polo industrial, mas é na
agricultura que a maioria trabalha, normalmente fazendo bicos.
Reajuste para 2016
A presidente Dilma sancionou na
sexta-feira (1) a Lei Orçamentária de 2016 com vetos em mais de 50 pontos. O
principal deles foi a rejeição ao
artigo que estabelecia o reajuste do Bolsa Família de acordo com a
inflação oficial (IPCA), atualmente na casa dos 10%.
Nas razões para o veto, o governo
afirmou que o dispositivo não encontra "comando compatível" no
Projeto de Lei Orçamentária de 2016 já aprovado pelo Congresso. "Assim, se
sancionado, o reajuste proposto, por não ser compatível com o espaço
orçamentário, implicaria necessariamente o desligamento de beneficiários do
Programa Bolsa Família."
Neste domingo (3), lideranças do
governo sinalizaram que um reajuste deve acontecer, mas abaixo da inflação. Os recursos devem
vir de uma elevação de R$ 1,1 bilhão no orçamento do programa em relação ao ano
passado. No entanto, o governo ainda faz contas para definir como usará a verba
nas ações do programa que atende um total de 13,9 milhões de famílias. Não está
definido, por exemplo, se será um aumento linear. Se isso ocorrer, o benefício
básico mensal por pessoa passará dos atuais R$ 77 para cerca de R$ 80.
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