O doleiro
Alberto Youssef depõe na CPI da Petrobras
na sede da
Justiça Federal em Curitiba (PR)
(Rodolfo
Buhrer/Reuters)
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Carregador de malas do doleiro
afirma à Lava Jato que políticos tinham plena consciência de que recebiam
dinheiro sujo: 'Ninguém ia lá para rezar', diz
Apontado pelo Ministério Público
como responsável por distribuir propina a políticos envolvidos na Operação Lava
Jato, o delator Carlos Alexandre de Souza Rocha, conhecido como Ceará, detalhou
a verdadeira romaria de parlamentares ao escritório do doleiro Alberto Youssef,
no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, e disse que todos os congressistas
tinham plena consciência de que recebiam dinheiro de propina. A intenção de
embolsar dinheiro sujo reforça a tese da acusação de que parlamentares
praticaram os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro ao receber
valores conhecidamente criminosos e os camuflar em atos lícitos, como na
declaração de doações de campanha. Entre os destinatários frequentes de
propina, Ceará citou às autoridades o ex-ministro das Cidades Mario Negromonte
(PP-BA) como "o mais achacador" e o atual deputado federal Nelson
Meurer (PP-PR) como o responsável pela "mesada gorda" a ser repassada
ao Partido Progressista (PP).
"Os políticos que compareciam
aos escritórios de Alberto Youssef iam lá pegar dinheiro. Ninguém ia ao
escritório de Alberto Youssef para rezar", disse o delator em depoimentos
de colaboração à Justiça.
Na versão apresentada pelo
carregador de malas, o deputado Nelson Meurer, por exemplo, utilizava o filho
para receber propina em seu nome. Antes das eleições de 2010, disse ele, o
filho do parlamentar recebeu 300.000 reais em um quarto do Hotel Curitiba
Palace, na capital paranaense. Em outra oportunidade, novo repasse de até
300.000 reais. Para evitar chamar atenção, a propina era escondida nas pernas
de Ceará. "No quarto, o declarante retirava o dinheiro das pernas, nas
quais os valores eram transportados, e entregava para o filho de Nelson
Meurer", diz trecho da delação premiada do carregador de malas do Alberto
Youssef.
A exemplo do que já havia confessado
o próprio doleiro, Carlos Alexandre detalhou o pagamento de propina do
escândalo do petrolão em apartamentos funcionais de congressistas, em Brasília.
Em um dos casos, os então deputados João Pizzolatti (PP-SC), Mário Negromonte
(PP-BA) e Pedro Correa (ex-PP-PE) já estavam a postos para embolsar o dinheiro.
Em outra oportunidade, Meurer, destinatário assíduo de propina, segundo o
delator, conheceu enfim o transportador de dinheiro. "Ah, então o senhor é
o famoso Ceará!", disse o deputado, conforme relatou o delator às
autoridades da Lava Jato.
No esquema que o próprio Alberto
Youssef batizou de "mensalão do PP", a partilha de propina era
definida conforme a representatividade de cada parlamentar dentro da
agremiação. Deputados mais inexpressivos, por exemplo, recebiam 30.000 reais
por mês do líder do partido. Caciques na época, como João Pizzolatti, Mário
Negromonte e Pedro Correa, eram destinatários de verdadeiras boladas. Conforme
relato do delator Ceará, Pizzolatti recebeu 5,5 milhões de reais em propina
para a campanha de 2010. Negromonte, 5,5 milhões de reais, e Correa embolsou
7,5 milhões de reais, a serem partilhados pelas campanhas da filha, Aline
Correa, e do genro, Roberto Teixeira. Todos negam irregularidades.
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