O ex-tesoureiro do PT João Vaccari
Neto visitou executivos da Andrade Gutierrez em São Paulo 53 vezes entre 2007 e
2014, segundo o Ministério Público Federal (MPF). Embora não revele detalhes do
que foi discutido nessas reuniões, os procuradores dizem que Vaccari foi
apontado por delatores da Operação Lava-Jato como “operador financeiro que
articulava recebimento de vantagens indevidas para o Partido dos
Trabalhadores”. O relatório do MPF que lista as 53 visitas indica que elas
ocorreram em 18 datas diferentes ao longo de sete anos.
Preso nesta terça-feira, o
executivo Flavio David Barra recebeu o então tesoureiro do PT 20 vezes entre 2
de julho de 2012 e 7 de abril de 2014 — 17 dessas reuniões ocorreram num espaço
de dez meses, de acordo com o MPF. Já o presidente da companhia, Otávio Azevedo
teve 27 encontros com Vaccari na sede da Andrade Gutierrez entre 13 de novembro
de 2007 e 7 de julho de 2014, quando as investigações do esquema de corrupção
na Petrobras já haviam começado. Outros seis encontros ocorreram com pessoas
identificadas apenas como “Flavio” e “Flavio Machado”.
Vaccari foi citado em depoimentos
prestados por cinco delatores: o ex-gerente da Pedro Barusco, o ex-diretor da
estatal Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef e os executivos Augusto
Mendonça e Eduardo Leite. Ele foi acusado pelos colaboradores de receber
“propinas de dezenas de milhões de reais em virtude de obras conduzidas pelas
grandes empreiteiras do país”, segundo o MPF.
O ministério público utilizou a
informação sobre as visitas de Vaccari à Andrade Gutierrez para justificar um
pedido de prisão preventiva contra Otávio e Flávio, em 22 de julho — o documento
só foi tornado público na terça-feira. Otávio está preso desde o dia 19 de
junho, quando foi deflagrada a 14ª fase da Lava-Jato. Já Flávio teve o pedido
de prisão temporária aceito pelo juiz Sérgio Moro nesta terça-feira.
Diz a petição do MPF: “todas essas
considerações acerca de João Vaccari e seus encontros com Flávio Barra e Otávio
Marques servem para demonstrar que são fortes os indícios de que a Andrade
Gutierrez utilizava o pagamento de propinas como modelo de negócio, e que
Flávio David Barra e Otávio Marques de Azevedo eram responsáveis, para em nome
da empreiteira, praticar crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, entre
outros.”
Segundo a força-tarefa da Lava-Jato,
Flávio era o responsável por representar a Andrade nas reuniões do grupo de
empreiteiras que formou cartel para concorrer a obras da usina de Angra 3. O
esquema envolveria o pagamento de propinas ao presidente licenciado da
Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro de Souza. Segundo o MPF, “há grande
probabilidade de outro servidor público da estatal ter auferido parte destas
vantagens indevidas”.
A defesa de Vaccari tem
sustentado, ao longo do processo, que visitas a executivos fazem parte da
rotina de um tesoureiro de partidos políticos, que todas as doações feitas ao
tesoureiro do PT ocorreram dentro da lei e que os recibos foram apresentados à
Justiça Eleitoral.
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