A ex-senadora Margarita Percovich, que apoiou a gestão de Mujica, prevê um segundo turno apertado, a exemplo do que ocorre no Brasil.
Os
uruguaios vão às urnas neste domingo para escolher um novo presidente, em uma
eleição que desenha um cenário bastante parecido com o que ocorreu no primeiro
turno no Brasil - e pode caminhar para a polarização que tem marcado a reta
final para o segundo turno no país vizinho.
O
candidato do governo, o ex-presidente Tabaré Vázquez, da Frente Ampla, lidera
as intenções de voto, de acordo com as pesquisas de opinião, com 40% a 43% das
intenções de voto, enquanto Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, registra
33%. Pedro Bordaberry, do Partido Colorado, tem 15%
"No
caso de segundo turno, a expectativa é que a oposição se una para apoiar Pou
contra Vázquez. Por isso, o resultado é incerto", disse o
professor de história e de ciências políticas da Universidade de la
República,em Montevidéu, Gerardo Caetano.
A
ex-senadora Margarita Percovich, que apoiou a gestão de Mujica, prevê um
segundo turno apertado, a exemplo do que ocorre no Brasil. "As
semelhanças com o nosso processo eleitoral e o brasileiro são impressionantes.
O que está ocorrendo aqui é tão complexo e imprevisível como no Brasil", afirma
a ex-senadora.
Mercosul
'divisivo'
O
cálculo que analistas, políticos governistas e opositores fazem, a partir do
que indicam as pesquisas, é que, se somados os votos de Lacalle Pou e de
Bordaberry, ocorreria, como no Brasil, um empate técnico no segundo turno. "A
percepção é de que os eleitores ainda estão mudando seus votos (a poucos dias
da eleição). E os indecisos não são apenas os tradicionais das eleições
anteriores, mas aqueles que veem desgaste em um governo que está há quase dez
anos no cargo", explica Caetano.
A
Frente Ampla assumiu a Presidência com Vázquez em 2005. O Uruguai não permite a
reeleição para mandato consecutivo, e o candidato do partido foi Mujica, que
assumiu o cargo em 2010.
Há
fortes semelhanças com a campanha brasileira nos discursos e propostas de
governo.
A
candidatura e a visão política de Tabaré Vázquez e da Frente Ampla são
identificadas com as da presidente Dilma Rousseff e o PT (Partido dos
Trabalhadores) por sua ideologia e trajetórias.
Já
Lacalle Pou e Pedro Bordaberry poderiam representar a oposição liderada por
Aécio Neves no Brasil - com ressalvas, como observa a analista Mariana Pomies,
do Instituto Cifra, de Montevidéu. "Lacalle
Pou é muito mais liberal, em termos econômicos, do que Aécio. E Bordaberry está
muito mais à direita. Mas Lacalle Pou tem a mesma trajetória que Aécio nessa
eleição. Parecia não ter muitas chances e agora pode até vencer", diz a
analista do Cifra.
Caetano
destaca que as semelhanças, em termos de propostas, entre Lacalle Pou e Aécio
ocorrem principalmente na política externa. Tabaré, assim como Dilma, tem
inclinação pela defesa do Mercosul como união aduaneira – apesar de em 2006,
quando era presidente, ter gerado suspense durante vários dias sobre um
possível TLC (Tratado de Livre Comércio) com os Estados Unidos, o que acabou
não ocorrendo.
Os
candidatos da oposição têm defendido, como Aécio, o livre comércio e são
críticos do Mercosul pela forma como ele funciona. Na
semana passada, o jornal El Observador, de
Montevidéu, disse que "a oposição uruguaia se identifica com a oposição
brasileira".
Por
sua vez, Lacalle Pou tem reiterado que "é preciso um Mercosul mais aberto
ao mundo", com a possibilidade de assinatura de acordos comerciais
bilaterais com outros países e blocos. "Nós nos negamos a ficar presos a
uma única alternativa, Mercosul sim ou não. Precisamos ser mais abertos",
disse ao jornalLa Nación, de Buenos
Aires.
País
de cerca de três milhões de habitantes, com aproximadamente 2,5 milhões de
eleitores, o Uruguai vota neste domingo também para deputados e senadores. E,
como no Brasil, saberá se o próximo presidente terá ou não maioria no Congresso
Nacional.
Fonte: BBC Brasil
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