Posições das mesas e carteiras não seguem regras rígidas de organização. (Foto: Raul Zito/G1) |
Sem
a separação clássica de alunos por série ou carteiras enfileiradas na sala de
aula, escolas de São Paulo têm inovado
na maneira de ensinar crianças do ensino fundamental. Inspiradas no modelo da
Escola da Ponte, uma instituição pública localizada no Porto, em Portugal,
criada em 1970, as unidades investem numa metodologia que não prevê, por
exemplo, ensinar matemática ou história da forma convencional.
As
disciplinas são embutidas em projetos interdisciplinares que mostram o sentido
de sua aplicação. Para aprender geografia, vale dar uma volta pela cidade e no
entorno da escola. Os conceitos da química ou a física podem ser encontrados em
uma oficina de culinária ou na prática de esportes. Na rede municipal de São
Paulo, pelo menos duas escolas trabalham dessa maneira, é o caso da Campos
Salles, localizada na Favela do Heliópolis, Zona Sul, e da Amorim Lima, no
Butantã, Zona Oeste. Na rede particular, há a escola Lumiar, que também possui
uma unidade pública, na cidade de Santo Antônio do Pinhal, próxima de Campos do
Jordão.
Essas
unidades possuem as carteiras organizadas em forma de roda, os professores são
os tutores e os mestres, que podem variar a cada bimestre. Há assembleias semanais,
onde todas as crianças falam sobre diversos temas da escola. Vale tudo, desde
uma reclamação sobre um colega, elogios, até uma reivindicação para uma
reforma. O uniforme não é obrigatório – exceto nas atividades externas, e o
desempenho não é avaliado somente por meio de provas.
Os
alunos aprendem todas as disciplinas obrigatórias previstas pela legislação. A
diferença é elas vêm embutidas em projetos que englobam diversos temas e visam
desenvolver mais do que uma habilidade de uma vez. Neste último bimestre, por
exemplo, parte dos alunos de São Paulo está aprendendo matemática por meio de
um projeto chamado “a busca de equilíbrio nas formas”, que também introduz
artes. História e geografia é ensinada, em um dos casos, através de visitas nos
bairros de São Paulo e no entorno da escola. A escrita e a caligrafia são
treinadas por contos criados pelas crianças que formam um livro em um outro
projeto. A aula de música inclui até conceitos de biologia no projeto "os
sons da floresta densa”.
(Foto: Raul Zito/G1) |
O
colégio atende alunos da educação infantil e do fundamental que participam das
atividades separadas por ciclos. Assim as crianças de 6 a 8 anos estão no ciclo
um; as de 9 a 11 no ciclo dois; e a de 12 a 14 anos no ciclo três. As aulas são
chamadas de encontros que duram cerca de 50 minutos. Nos encontros os
estudantes participam de projetos bimestrais que abordam diversas disciplinas e
desenvolvem as habilidades.
Bernardo
Falsitti Silveira, de 6 anos, é um dos 80 alunos. O menino diz que já sabe o
que quer ser quando crescer: um diretor de cinema famoso. Escolheu a profissão
após conhecer a arte em uma oficina de cinema na escola. “Aqui é diferente,
você não precisa ficar sentado, quieto, olhando para frente. Eu gosto, nas
outras escolas que estudei eu já chegava irritado”, afirma sem a mínima
timidez, gesticulando e fazendo poses para ser fotografado.
Na
unidade pública, em Santo Antônio do Pinhal, a Lumiar atende 41 alunos do
bairro Lajeado, área rural de Santo Antônio do Pinhal, e recebe
prioritariamente os estudantes desse entorno. A expectativa da secretaria
municipal da educação é implantar a metodologia em 100% da rede pública, que
abriga sete escolas e 1.513 estudantes, ao longo dos próximos anos.
‘Todas as
ideias são possíveis’
Célia Senna, diretora pedagógica do Instituto Lumiar, diz que introduzida nos projetos todas as disciplinas são trabalhadas, de acordo com a faixa etária das crianças. Os projetos não se repetem e a matéria-prima para criá-los vem de sugestões nas salas de aula. “Trabalhamos dessa forma desde o ensino infantil, todas as ideias são possíveis, nada é descartado. Queremos desenvolver o interesse pelo aprendizado. Aprender dói, requer esforço, mas quando se mostra para que ele serve fica mais fácil.”
Espaços da escola têm semelhança com espaços da casa, fazendo com que a escola seja o mundo e não apenas um recinto fechado denominado escola. (Foto: Raul Zito/G1) |
Os
mestres são responsáveis pela aplicação do conteúdo específico das áreas, e se
por caso, eles avaliarem que uma turma necessita de uma aula tradicional sobre
fração ou equação isto pode ocorrer. “Não
se trata de uma escola alternativa. Temos regras e cumprimos a legislação como
qualquer outra escola. A diferença é que pensamos na aprendizagem
personalizada, temos um olhar muito individualizado de cada aluno”, afirma
Célia. “Alguém determinou que tem de existir a seriação. Por quê? Temos a coisa
do ‘tem que’, uma criança com tantos anos ‘tem que’... Não funciona assim na
educação, as pessoas têm diferenças de aprendizado”, complementa.
Para
a diretora Marina Nordi Castellani, mais importante do que o aluno saber
resolver uma equação é identificar se ele sabe organizar e se conhece o
princípio que está por trás da fórmula.
O
professor da faculdade de educação da Universidade de São Paulo (USP) Vitor
Henrique Paro diz que é favorável às inovações pedagógicas desde que tenham
base e não sigam modismos apenas. "A nossa escola de modo geral está
atrasada, no século 15. É preciso revolucionar", afirma.
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