País tem
proficiência 'muito baixa' em ranking mundial de domínio da língua.
Cursos emergenciais só podem 'apagar incêndio' até 2014, diz consultor.
A menos de
dois anos para a Copa do Mundo de 2014, diretores da EF Education First,
empresa de educação internacional, defendem que ainda dá tempo de melhorar o
inglês dos brasileiros nos setores de serviços e turismo para receber os
estrangeiros que visitarão o país. Não seria a primeira vez: cursos de algumas
semanas para milhares de chineses, às vésperas da Olimpíada de Pequim, em 2008,
tiveram bons resultados no curto prazo. Mas aumentar o nível de domínio do
idioma na população em geral, segundo a empresa, que criou o primeiro ranking
mundial de proficiência em inglês, vai exigir que o governo brasileiro repense
o processo de aprendizagem.
"Essa
é uma oportunidade muito boa para essa conversa ser feita. É um alarme para o
Brasil acordar", afirmou Luciano Timm, diretor de marketing da EF no país.
Segundo ele, entre as estratégias essenciais para garantir um ensino de
qualidade do inglês está o treinamento de professores. "São
necessárias 400 horas para desenvolver um professor de um nível para outro. Se
queremos que os professores tenham níveis de certificação, precisamos achar uma
maneira de treiná-los", disse Timm.
Na segunda
edição do Índice de Proficiência em Inglês (EPI, na sigla em inglês), divulgado
pela EF na manhã da quarta-feira (24), o Brasil está apenas na 46ª colocação
entre 54 países participantes. Em relação à primeira edição, de 2009, o inglês
dos brasileiros caiu 15 posições e foi "rebaixado" do nível baixo
para o nível muito baixo de proficiência.
A
disparidade regional do Brasil apresentada pela pesquisa condiz com resultados
do país no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) e dados da educação
brasileira: os estados do Sudeste e Sul se saíram comparativamente melhor que
os do Norte e Nordeste.
Alguns
exemplos mostram como o desenvolvimento econômico, a qualidade da educação e a
proximidade com o resto do mundo influenciam no nível de fluência em inglês. O Rio de
Janeiro, principal destino turístico do país, teve também o maior índice de
proficiência, num patamar que superou países como o Chile e a China. "Em São Paulo , a
desigualdade dentro do estado influenciou em um índice menor. O Paraná ficou na
segunda posição, e é onde fica o Porto de Paranaguá", explicou Timm.
No plano
mundial, os índices da pesquisa também condizem com dados referentes a outros
fatores: países com melhor desenvolvimento econômico, maior qualidade de vida e
grandes volumes de comércio exterior também são os que apresentam melhor
desenvoltura na língua inglesa, tanto por causa da qualidade da educação quanto
pela proximidade com o resto do mundo, em transações em que geralmente se fala
inglês.
Algumas
exceções são países com grande exportação de petróleo, mas índices muito baixos
de educação, como a Arábia Saudita, ou nações com alta penetração do uso de
internet, mas baixo índice de domínio de inglês, como o próprio Brasil.
Ciência sem
Fronteiras
As falhas no ensino do idioma aos brasileiros atingem mais do que taxistas, garçons e recepcionistas. Um dos principais desafios é que candidatos ao programa Ciência sem Fronteiras tenham o nível de inglês exigido para que eles possam fazer parte de sua graduação em instituições do exterior. "A maior parte das pesquisas são feitas em inglês, e você só pode colaborar com outros cientistas se falar inglês", afirmou Timm.
Uma das
dicas para estudantes interessados em concorrer à bolsa do governo federal é
investir em cursos de inglês ou um curso sobre sua área de atuação oferecido em inglês. Isso pode
acontecer tanto pela internet -- desde que o professor do curso seja nativo ou
certificado para ensinar com qualidade -- quanto em países como o Canadá.
Segundo
dados da EF, um curso de imersão total de quatro semanas em um país onde o
idioma é nativo equivale ao mesmo nível de aprendizado do idioma que um curso
local de um ano. "Digo que não há nada melhor que um estudante brasileiro
pode fazer no verão do que ver a neve cair no Hemisfério Norte", disse
Timm.
O
Ministério da Educação vai lançar ainda neste ano um programa para melhorar o
nível de inglês dos estudantes. Será o “Inglês sem Fronteiras”. “Não adianta
dizer que tem uma política de cotas, sem proficiência em inglês. Se não, só
posso mandar para Portugal”, diz o ministro Aloizio Mercadnate.
De acordo
com o ministro, cerca de 150 mil alunos que tiraram mais de 600 pontos no Enem
vão ser classificados pelo exame Test of English as a Foreign Language (Toefl),
que será aplicado gratuitamente, de proficiência em inglês e poderão fazer
curso presencial, ou semipresencial, de acordo com o desempenho.
O Toefl é
um dos exames de proficiência em inglês mais conhecidos no Brasil e no mundo.
Ele já foi administrado mais de 20 milhões de vezes desde sua criação, em 1964.
O Toefl é desenvolvido pela ETS, uma instituição sem fins lucrativos dos
Estados Unidos dedicada à pesquisa e testes educacionais.
Debate
Em novembro, a EF vai debater o futuro do ensino de inglês no Brasil com representantes do governo, de escolas públicas e particulares e do setor privado. De acordo com Jaime Mullerat, diretor da empresa no Brasil, o projeto já foi realizado em outros países latinoamericanos. "As escolas precisam aceitar a realidade, entender como está o ensino de inglês em suas instituições e descobrir como aumentar esse nível", explicou.
Segundo
ele, testes de monitoramento podem ajudar as escolas nesse sentido. "Só
quando você sabe onde está é que pode descobrir como avançar", disse
Mullerat.
Para
Eduardo Rubio, presidente da divisão da EF para jovens profissionais, o país
não vai subir no ranking em um período de curto prazo porque são necessários
anos de investimentos e uma abordagem realista sobre as dificuldades para que
isso aconteça. "Mas, pensando nos eventos próximos, temos claros exemplos
de esforços que tiveram impacto", afirmou Rubio.
Ele citou o
treinamento "muito eficiente" de 3 mil funcionários chineses que atuaram
nos Jogos Olímpicos de Pequim, em um "esforço de combate a incêndio"
para ensinar inglês a essas pessoas.
No longo
prazo, Rubio deu como exemplo programas do governo espanhol que, ao longo dos
anos, já deu bolsa para que 100 mil estudantes viajassem para o exterior para
estudar inglês durante algumas semanas. Além disso, mais de 20 mil professores
espanhois -tanto de inglês quanto de outras disciplinas- também tiveram suas
viagens finaciadas para receberem treinamento fora do país, uns para ensinar inglês
e outros para dar aulas de suas matérias em inglês.
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