Com apoio da Petrobras, projeto no Amazonas aumenta preservação de jacarés e tartarugas. | Rio das Ostras Jornal

Com apoio da Petrobras, projeto no Amazonas aumenta preservação de jacarés e tartarugas.

Em épocas de seca na região, pesquisadores chegaram a registrar mais de 400 jacarés por quilômetro quadrado.
Estima-se o nascimento de 42 mil filhotes de quelônios nas áreas de proteção este ano. 
Pesquisadores do projeto Conservação de Vertebrados Aquáticos Amazônicos (Aquavert) estão aumentando a preservação da tartaruga-da-amazônia e de jacarés da região, com patrocínio da Petrobras. Até outubro de 2011, o projeto conseguiu proteger 133 ninhos de tartarugas, 1448 ninhos de iaçá e 379 de tracajá, outras espécies de quelônios. Estima-se o nascimento de 42 mil filhotes de quelônios nas áreas de proteção este ano. 

Em 1998, no início das atividades, apenas seis ninhos de tartaruga-da-amazônia foram protegidos; na temporada de reprodução de 2010, foram 55. A tartaruga-da-amazônia é a espécie de quelônio mais ameaçada da Região Amazônica, especialmente porque sua carne e seus ovos se tornaram iguarias típicas da região. A caça de jacarés ainda persiste entre populações ribeirinhas, por conta do comércio ilegal de pele e carne.  Desenvolvido pelo Instituto Mamirauá, o Projeto Aquavert ganhou um reforço em 2010, quando foi selecionado no Programa Petrobras Ambiental. Até 2012 receberá R$ 2,3 milhões da Companhia para desenvolver ações de manejo sustentável das espécies da biodiversidade amazônica. O projeto atua nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, na região do médio Solimões, no Amazonas.

Na Reserva Mamirauá, os quelônios se reproduzem durante a temporada de seca, de julho a dezembro, quando se formam as praias onde as fêmeas sobem para construir seus ninhos. As comunidades ribeirinhas recebem orientações de pesquisadores para realizar atividades de proteção de áreas de reprodução de quelônios. Os moradores se revezam na vigilância dos ninhos nas praias e lagos, para que ninguém retire ovos ou animais.

Cássia Camillo, bióloga do projeto Aquavert, comemora o aumento das áreas protegidas. "Também percebemos um interesse muito maior por parte dos moradores. Antes, nós tínhamos que ir às comunidades para incentivá-las a iniciar a proteção de uma área. Hoje, as comunidades nos procuram pedindo assessoria e apoio", diz a bióloga.  Além do trabalho com os quelônios, mais de 200 ninhos de jacarés-açu e jacaretinga estão sendo monitorados por pesquisadores do Aquavert em Mamirauá. A reprodução dos jacarés também ocorre durante o período da seca e termina em janeiro.

A Reserva Mamirauá é o lugar onde há os maiores registros de concentração de jacarés-açu no mundo. Em épocas de seca na região, pesquisadores chegaram a registrar mais de 400 jacarés por quilômetro quadrado. No caso dos jacarés, os cientistas desenvolvem atividades de monitoramento na intenção de conhecer melhor a biologia dos animais, por exemplo, qual a média de ovos que as fêmeas desovam, em que tipo de terreno os ninhos são construídos, qual a temperatura dos ninhos e quantos machos e fêmeas nascem.

Sobre o jacaré-açu

Na década de 1940, o colapso da economia da borracha na Amazônia forçou moradores de áreas ribeirinhas a buscar novas alternativas econômicas. Entre as alternativas, surgiu o comércio de peles e, posteriormente, carne de jacarés. Em 1967, a caça de espécies silvestres foi proibida no Brasil e, com o fortalecimento do movimento ambientalista nas décadas de 1970 e 1980, a procura pelos subprodutos de jacarés diminuiu. O jacaré-açu, considerado até a década de 1990 como ameaçado de extinção, hoje é classificado por órgãos de proteção ambiental como espécie que corre baixo risco de desaparecer da natureza, mas que depende de programas de conservação. Embora em menor escala, a caça ilegal de jacarés ainda persiste em comunidades ribeirinhas na Amazônia.

Sobre os quelônios

A carne e os ovos de "bichos de casco" são iguarias em diversas áreas da Região Norte. O prato é apreciado tanto pelos moradores da região quanto por turistas. Atualmente, a União Internacional para a Conservação da Natureza classifica a tartaruga-da-amazônia como dependente de programas de conservação. Outras duas espécies, tracajá e iaçá, são classificadas como vulneráveis. Para evitar o consumo ilegal de quelônios na Amazônia, o Instituto Mamirauá tem adotado medidas de conservação na região do médio Solimões, no Amazonas, desde 1998, para proteger áreas de reprodução de quelônios. Em 2011, 44 comunidades atuaram na proteção de 16 praias e 17 lagos da Reserva, utilizados para a desova de tartarugas, tracajás e iaçás.

Monitoramento do período de reprodução

Durante o período da seca no Médio Solimões (entre julho e dezembro), nas praias e lagos da Reserva Mamirauá, ocorre a temporada de reprodução de jacarés e de tartarugas-da-amazônia, tracajás e iaçás. As atividades de proteção dos ninhos de quelônios contam com a participação dos moradores na vigilância das áreas de reprodução e como assistentes de campo nas ações de pesquisa. Os moradores acompanham desde a desova até o nascimento dos filhotes. Fêmeas e filhotes são medidos e material biológico é coletado. Essas informações são utilizadas em análises de taxa de nascimento, números de filhotes machos e fêmeas e em estudos genéticos. As fêmeas capturadas também são marcadas com sinais no casco e com uma etiqueta plástica, que facilitará a identificação do quelônio em uma próxima captura.

No monitoramento dos ninhos de jacarés, os moradores e pesquisadores percorrem as bordas de lagos e canos na floresta, caminhando em áreas que permanecem alagadas durante sete meses no ano. O objetivo é localizar pequenos lagos que se formam no interior da mata. Ao redor destes lagos, as fêmeas de jacaré costumam montar os ninhos.
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