Em SP, skinheads e punks disputam pichações e põem polícia em alerta | Rio das Ostras Jornal

Em SP, skinheads e punks disputam pichações e põem polícia em alerta

Foto acima de 28 de novembro mostra pichação
atribuída a skinheads em portão em Pinheiros;
abaixo, mesmo portão é pichado novamente no
início de dezembro por punks que incluíram 'fa' para
formar a palavra 'antifa', que significa antifascista.
Eles também modificaram suásticas nazistas,
tranformando-as em quadrados

G1 fotografou mensagens e citações neonazistas e anarquistas em muros.
PM e Polícia Civil monitoram pichações; há risco de novos confrontos.

Além das frequentes brigas e agressões entre skinheads e punks, que resultaram na morte de uma pessoa neste ano em São Paulo, a rivalidade entre esses grupos passou a ser vista também em muros. Uma onda de pichações neonazistas e anarquistas está se espalhando pela capital paulista e preocupa as polícias Militar e Civil. O patrulhamento ostensivo da PM e a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), estão em alerta por causa do risco de novos enfrentamentos pelas ruas.

Os ataques dos pichadores estão sendo monitorados e investigados para se tentar chegar às suas autorias. Quem for pego pichando poderá responder por danos ao patrimônio público, crime ambiental, apologia ao nazismo e incitação à violência. Câmeras de segurança estão sendo analisadas para saber se elas registraram alguma ação. Até quarta-feira (7) nenhum suspeito havia sido identificado, detido ou preso. Durante três dias, o G1 percorreu alguns pontos da cidade e fotografou inscrições dos rivais, principalmente no Centro e na Zona Oeste. A disputa deles pelas paredes, para propagar suas propagadas ideológicas, está pautada por provocações com o intuito de se sobressair sobre o outro. É corriqueiro ver uma pichação feita por um skinhead ser rabiscada ou apagada por outra pichação, feita por um punk, e vice-versa.

Skinheads x punks
No Brasil, os skinheads (conhecidos como cabeças raspadas) são grupos que se definem como nacionalistas, mas também são reconhecidos como neonazistas por adotarem os princípios de intolerância do ditador Adolf Hitler. Eles pregam o ódio a judeus, negros, imigrantes latinos, à missigenação racial, homossexuais, nordestinos e punks. Os punks, por sua vez, valorizam o anarquismo, que preconiza a ausência de governantes. Alguns valorizam a mistura de raças e combatem skinheads.

Em São Paulo, os skinheads picham mensagens, símbolos e palavras que enaltecem o nazismo, como as suásticas, os números 88 (numa referência a posição das letras HH no alfabeto para citação de Heil Hitler), SS (iniciais da polícia de elite nazista) e White Power (Poder Branco). Recentemente, estão grafando ‘anti-antifa’, que, em outras palavras, significa serem contrários àqueles que lutam contra os fascistas. As pichações dos punks são, em sua maioria, a letra ‘A’ dentro de um círculo, representação clássica do anarquismo, e citações que pedem ‘morte aos nazis’, além de se intitularem ‘antifa’.

Provocações e pichações
A equipe de reportagem do G1 encontrou pichações neonazistas e anarquistas nos muros do Hospital Emílio Ribas e Cemitério do Araçá, ambos na Avenida Doutor Arnaldo, entre a região central e o bairro de Pinheiros. Também há mensagens nas paredes da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), na Rua Teodoro Sampaio. 
Outro local repleto de pichações é a Rua Cardeal Arcoverde, com símbolos nazistas dividindo espaço com os da anarquia. Na noite de 28 de novembro, o G1 fotografou a porta de uma construção de um empreendimento na via. Nela, aparecia a inscrição “Brasil anticomunista” entre duas suásticas, feita, provavelmente, por skinheads. No início de dezembro, no entanto, a mesma frase ganhou a terminação “fa” depois de “anti” e ficou “antifa”, numa provocação feita por punks.

Esse embate de ideologias seguiu por quase toda a extensão da Cardeal Arcoverde. Fica a impressão de que a cada pichação neonazista há uma sobreposição anarquista. Casas residenciais e imóveis comerciais também foram alvo dessa disputa.

“Já perdi a conta de quantas vezes mandamos pintar a parede”, disse na segunda-feira (5) Edmar Passamani, gerente do La Buca Romana, restaurante que fica na esquina das ruas Oscar Freire com a Cardeal. Enquanto falava, o copeiro Willem Gleibson, de 18 anos, funcionário do estabelecimento comercial, se preparava para pintar e cobrir novamente as pichações.

Na Rua Peixoto Gomide, região central, a cabeleireira Sandra Candido, de 52 anos, dona de um salão de beleza, recorreu ao bom senso dos pichadores para tentar se livrar das mensagens pintadas na parede verde de seu comércio. Ela colocou uma placa no local informando que contribui financeiramente com instituições de caridade e, por esse motivo, queria que o dinheiro usado para apagar as pichações fosse destinado exclusivamente para as crianças carentes.

“Uma vez uns punks pintaram umas caveiras na minha parede. Eu reclamei com um conhecido que tirou a foto e colocou na internet. Resultado: no outro dia os punks vieram e rasparam o desenho que fizeram”, disse Sandra.

Briga com morte
O bom senso, no entanto, é raro. Na maioria das vezes há muita divergência quando eles se encontram. No dia 3 de setembro deste ano, um sábado à noite, Jonhi Raoni Falcão Galanciak, de 25 anos, foi esfaqueado e morto após se envolver numa briga generalizada entre punks e skinheads na frente de uma casa noturna na Rua Cardeal Arcoverde. Jonhi era punk.
Câmeras de segurança da rua gravaram o conflito e ajudaram na identificação de quem participou do crime e da confusão que deixou feridos. A Decradi prendeu punks e skinheads suspeitos.

A morte de Jonhi foi lembrada por seus amigos punks em pichações no muro da Avenida Doutor Arnaldo sobre o viaduto Sumaré, na Zona Oeste. “Jonhi Raoni Punk 38” e “nazismo é crime” foram escritos no local, próximo à Estação de Metrô Sumaré, e podem ser vistos por quem circula pela região. As pichações neonazistas e anarquistas sempre ocorreram na cidade, mas se tornaram mais intensas após o assassinato do punk Jonhi. A Decradi investiga se há relação entre a morte dele e as mensagens mais recentes pichadas por skinheads e punks.

“Parece que está havendo uma migração da área de atuação dos skinheads e punks. Da região da Rua Augusta, as pichações se intensificam perto de Pinheiros”, disse a delegada Margarette Barreto, da Decradi. Jonhi morreu após ser esfaqueado em Pinheiros.

O último confronto entre skinheads e punks registrado pela Decradi ocorreu no final de novembro, quando os grupos rivais brigaram com paus e pedras na Rua da Consolação em frente ao prédio da Corregedoria da Polícia Civil. Um policial civil que tentou apartar a briga levou uma pedrada na cabeça e se feriu. Punks suspeitos foram detidos. Eles são suspeitos de fazer parte de um movimento que está ocupando um trecho da Avenida Paulista. Câmeras de segurança gravaram parte da confusão.

Judeus
Um aspecto das novas pichações de skinheads e punks que vem chamado a atenção da polícia é que elas estão ocorrendo próximo do Centro da Cultura Judaica, na Rua Oscar Freire, Sumaré. Quando eles picham algo na região, os punks vão lá e picham por cima. Em 13 de agosto, o muro do centro também foi alvo dos adoradores de Adolf Hitler, que picharam uma suástica. O símbolo nazista foi removido sem dificuldades porque as paredes do local possuem um material que facilita a remoção de pichações. Procurada para comentar o assunto, a assessoria de imprensa do Comando de Policiamento da Polícia Militar na capital paulista informou que está sabendo das pichações e vem fazendo rondas constantemente nos locais onde ocorreram os danos.
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