Ex-treinador, que foi seu mestre no futebol, era tricolor doente.
Técnico campeão brasileiro manda presidente do Flu 'calar a boca' em entrevista
A festa tricolor no vestiário teve de tudo. Inclusive, banho no treinador. Os jogadores não pouparam o técnico Muricy Ramalho de banhos de água enquanto dava entrevista. Fred, de sunga, foi um dos que comandaram a comemoração esfuziante para o treinador, considerado, ao lado de Conca, o maior herói da conquista do Brasileirão-2010 após a vitória neste domingo, por 1 a 0, sobre o Guarani. E no meio de todas as declarações emocionadas, Muricy, que chegou a mandar o presidente Roberto Horcades calar a boca - "Peraí, presidente. Você vai ter duas horas para ficar falando, agora deixa eu falar" - comentou um sonho que teve na véspera da partida contra o Guarani. Com nada mais nada menos do que o seu saudoso mestre, Telê Santana, tricolor confesso.
- Eu fiquei tão emocionado que queria falar. Essa noite eu sonhei com o Telê Santana. Sonhei que dei um tremendo abraço nele. Tenho certeza de que ele está muito contente lá em cima com esse título do Fluminense... Acho que esse sonho aconteceu porque falaram tanto dele durante a semana... Acho que foi por isso. Vi o Telê vivo no sonho. E prometi a mim mesmo que, se fosse campeão, ia falar sobre isso.
Telê Santana, de quem Muricy Ramalho foi pupilo ainda no São Paulo, tornou-se um dos maiores ídolos do Fluminense como jogador nos anos 50 e 60. Era conhecido como "Fio de Esperança", de tão magrinho e dedicado que era. Ponta-direita, foi um dos primeiros atacantes a voltar para marcar, com muita importância tática. Depois, como técnico, deu o Campeonato Carioca ao seu time de coração em 1969 e montou a base da equipe que seria campeã em 1970 do Robertão (Taça de Prata), título que a torcida tricolor considera como primeiro Brasileiro.
Campeão brasileiro pelo Atlético-MG em 1971, Telê encantou o planeta treinando a Seleção Brasileira nas Copas de 1982 e 1986. Mas não ganhou títulos. Só chegou ao topo com o São Paulo, bicampeão mundial em 1992 e 1993. E criou o pupilo Muricy Ramalho, que nesse domingo conquistou o seu quarto título brasileiro - foi tricampeão com o São Paulo em 2006, 2007 e 2008. Mas os 90 minutos desse domingo pareceram os mais longos e difíceis para o vitorioso técnico.
- Foi, sem dúvida, o título mais difícil. Sofri muito mais. O que mata um time de futebol é a ansiedade. Nosso time estava ansioso, 26 anos sem ganhar, torcida ansiosa, diretoria ansiosa, comissão técnica. Eu sou técnico e sei o que é isso, atrapalha demais. No intervalo, consegui acalmar os caras para conseguir o título. O Guarani vinha sem nenhuma responsabilidade. A única responsabilidade deles era o bicho, que era bom, porque já tinham caído.
Muricy lembrou também as dificuldades que teve durante a competição, com a perda de alguns jogadores por contusão, como Emerson, Fred e Deco.
- Perdemos muitos jogadores, ficamos muito tempo sem os melhores. Tive de convencer aqueles que coloquei para jogar de que eram muito importantes. Tenho de agradecer demais ao Marquinho, Tartá, Julio César, André (Luis), Rodriguinho, Cássio... Não são as feras, não aparecem muito, mas quando o time ficou sem as feras, eles seguraram a bronca. Sem eles não seríamos campeões. Quando o Fluminense precisou de um técnico, eu fui esse técnico. Soube escalar o time sem um entrosamento bom e ganhar jogo.
Depois de homenagear Telê, Muricy fez questão também de citar seu antecessor no clube tricolor. Cuca, hoje no Cruzeiro, não foi esquecido.
- Nós perdemos para o Corinthians e todo mundo ficou de cabeça baixa. Tive de dar alguns exemplos. Jogador precisa disso. Disse que consegui um título com 11 pontos atrás do Grêmio (em 2008, pelo São Paulo), quase que com toda a diretoria sem nos apoiar. Só o Juvenal (Juvêncio, presidente do São Paulo) acreditava. Eu nunca desisto, por isso que eu venço. O jogador que trabalha comigo não desiste nunca. Nosso time não é um grande time, é um time de guerreiros, de briga. O Cuca ensinou esta caminhada para eles, da vontade, da guerra no bom sentido. Cuca fez isso muito bem, dei sequência ao trabalho dele e deu certo.
Seleção Brasileira
Quando lembrado sobre a recusa de treinar a Seleção Brasileira e permanecer no Flu, Muricy mostrou não ter nenhum arrependimento da escolha.
- Isso não pode ser, não existe. Seleção é um sonho, mas o sonho não pode ser a qualquer preço. Temos de ser corretos. Você não pode dar as costas para uma torcida dessas. Não pode dar as costas para o Rio de Janeiro, que me recebeu muito bem. Nem para o patrocinador, que fez de tudo para me trazer, o presidente do clube, os jogadores. Você não pode dar as costas. Sempre fui muito bem tratado. Eu tenho sentimento, não dou as costas para quem me trata bem. Eu sou bem pago, tenho de dar retorno. Aprendi tudo isso com meu pai. Palavra tem que ser cumprida.
Adaptado ao Rio, Muricy, que com o quarto título brasileiro fica perto de se igualar ao treinador mais vezes campeão - Vanderlei Luxemburgo, atualmente no Flamengo, ganhou cinco vezes -, espera novas conquistas.
- Se Deus ajudar, vou aumentar essa lista. Não é fácil, não. Ano passado passei perto. Perdi o título aqui no Engenhão. No último jogo, contra o Botafogo, o Palmeiras ainda tinha chance. Quem faz as coisas bem e corretas, o homem lá em cima demora um pouquinho, mas dá o prêmio. As pessoas que trabalham comigo acreditam e dá certo - afirmou o técnico, que também foi vice-campeão brasileiro com o Inter, em 2005.
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