Com guarda-chuva ou cadeira em punho, diariamente o público seguia para pelo menos um dos quatro palcos da cidade.
O público pulava nas poças formadas pela chuva
RIO - A chuva foi o grande desafio do 8º Rio das Ostras Jazz e Blues Festival. Mas a garoa que deu pouca trégua e alguns sustos durante o evento não afastou o público, que se consagrou como o protagonista da festa. Cerca de 40 mil pessoas circularam no balneário na última semana para acompanhar a programação com shows de nomes como os baixistas Ron Carter e T.M. Stevens. Desde 2007, o festival lota a cidade, atraindo proporcionalmente mais pessoas do que o verão.
Com guarda-chuva ou cadeira em punho, diariamente o público seguia para pelo menos um dos quatro palcos da cidade. Gente de todas as idades, do Rio, de Minas Gerais, do Espírito Santo e até de fora do país aproveitaram as baixas temperaturas para tirar botas e casacos do armário e caprichar no visual. A insistência do público surpreendeu T. M. Stevens:
- Que diabo é isso? Quanta gente para ouvir música de verdade! - disse ele, ao subir no palco da Costazul, na noite de sábado.
A informalidade marcou sua apresentação, ao lado da baterista Cindy Blackman, da banda de Lenny Kravitz. T.M. passeou pelo rock, pelo reggae e pelo funk. Para esquentar, ele arrastou todos do "backstage" para balançar no palco.
- Mexa sua bunda - pedia ele, à platéia - Shake your bunda!
Mas nem precisava apelar, porque a empolgação já estava garantida. O público pulava nas poças formadas pela chuva e muita gente desfilava de capa de plástico pela Costazul - a principal arena do jazz e do blues em Rio das Ostras.
- Compramos a capa de chuva para garantir. Nem pensar em desistir - disse a estudante Narjare Bianes, que viajou para a cidade com mais três amigos de Vitória.
A última noite do evento, que começou na quarta-feira, foi consagrada pela Glen David Andrews Band. Tocando canções conhecidas, o cantor e trombonista fez o festival terminar com gosto de "quero mais". Ele mergulhou três vezes sobre a platéia, mostrando que o jazz e o blues também podem assumir uma postura rock'n'roll.
O cantor de blues André Christovam, que subiu ao palco na noite de abertura, fez o primeiro grande show da programação. No dia seguinte, quem chamou atenção na Praia da Tartaruga foi o pianista Joey Calderazzo. Apesar da forte chuva que caiu ao longo de toda a sua apresentação, o músico conseguiu segurar a platéia num palco que fica sobre as pedras, praticamente dentro do mar. Quando precisou secar seu teclado, ele aproveitou o improviso do jazz para tirar som do instrumento.
Na noite de quinta-feira, a chuva parou para o trombonista brasileiro Raul de Souza exibir o seu "souzabone" - trombone elétrico criado por ele, armado em dó, com quatro válvulas cromáticas . Para coroar o dia, o virtuose da guitarra Stanley Jordan subiu ao palco acompanhado pelo baixista Dudu Lima, pelo baterista Ivan "Mamão" Conti (do grupo Azymuth) e por Armandinho. Ao final da apresentação, o baiano tocou uma versão autoral do "Bolero de Ravel", fazendo vibrar quem até então batia queixo no descampado da Costazul.
Sexta-feira foi o dia de Ron Carter, um dos poucos músicos conhecidos do grande público. Ele apresentou um show mais tradicional, tocando um jazz clássico, e não decepcionou a platéia. No mesmo dia, o gaitista Rod Piazza & The Mighty Flyers se apresentaram na Lagoa de Iriry - o palco preferido de quem já freqüenta o evento, porque aproxima o público do artista, numa arena menor. Maçã do amor, pipoca e algodão doce vendidos no local deram o clima do espaço.
Na mesma noite, o trompetista de New Orleans Michael "Patches" Stewart fez uma apresentação para entrar para a história do festival, aclamada por muitos como a melhor de 2010.
- Eles conseguem sair do tema e voltar. O baterista é muito bom, assim como toda a banda - avaliou o DJ Bola, do Rio de Janeiro.
A formação de sucesso que acompanhou "Patches" também tocou ao lado de Victor Bailey, no sábado. Ex-baixista do Weather Report, ele é conhecido por tocar um jazz fusion, com elementos do rock, do funk e da música eletrônica.
Outro nome de destaque na programação foi o Michael Landau Group, que agradou os fãs de blues tanto à noite, na Costazul, quanto à tarde, na Lagoa de Iriry.
O festival de jazz e blues de Rio das Ostras começou em 2003 e acabou virando uma marca da cidade. Hoje, comerciantes e a rede hoteleira celebram o sucesso do evento. O quarto palco, instalado na Praça São Pedro, no Centro, foi uma novidade desta edição. No espaço, a organização promoveu shows de novas bandas.
- Tem muito cantor povão que não atrai esse público. Do que é bom, todo mundo gosta. As pessoas ficam mesmo no frio e sem conforto - comentou, surpreso, o prefeito Carlos Augusto Balthazar.
O festival cresce junto com a cidade, que dobrou de tamanho nos últimos cinco anos e hoje soma 96 mil habitantes. Segundo o prefeito, o investimento no evento vem diminuindo, em função das parcerias que a marca do festival consegue. Mas a cidade não tem planos de entregar o festival à iniciativa privada. Atualmente, o governo arca com metade do financiamento da iniciativa.
- Hoje, a cidade investe menos do que há cinco ou seis anos. São cerca de R$ 600 mil. Um percentual sempre vai ser financiado pela prefeitura, porque o evento é nosso - garante Balthazar.
Organizadores dos festivais de Natal, de Brasília e de Paraty estiveram em Rio das Ostras, para estudar parcerias capazes de baratear a contratação de artistas.
- Queremos fazer um circuito. Quando nos unimos, ficamos fortes. E como as regiões são distantes, não vejo problema em chamarmos os mesmos artistas - diz Juçara Figueiredo, produtora do festival de Natal.
Hoje, o evento de Rio das Ostras conta com patrocínio da Oi FM, da V &M do Brasil e dos governos estadual e federal. Nenhum centavo é gasto em segurança, por falta de necessidade. E se o mau tempo não ameaça o festival, a Emenda Ibsen, que prevê uma nova distribuição dos royalties do petróleo no país, coloca a programação em cheque.
- Nós deixaríamos de receber 99% do que recebemos de royalties. É uma injustiça social - diz o prefeito.
oglobo.
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