3/06/2025

China diz estar pronta para “qualquer tipo de guerra” com os EUA e aumenta gastos militares


 “Se o que os Estados Unidos querem é uma guerra, seja uma guerra tarifária, uma guerra comercial ou qualquer outro tipo de guerra, estamos dispostos a lutar até o fim.” A declaração do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China em sua conta no X aumenta as tensões ao máximo e, pela primeira vez, sugere tacitamente um confronto militar entre as duas potências.

A frase encerra um longo comunicado publicado após a confirmação das tarifas impostas pelos EUA a produtos chineses, uma tentativa do governo de Donald Trump de pressionar Pequim a se comprometer mais no combate ao tráfico de fentanil.

O governo de Xi Jinping considera que “o problema do fentanil é uma desculpa frágil para aumentar as tarifas dos EUA sobre as importações chinesas” e alega que o consumo da droga, cujos precursores químicos vêm da Ásia, é responsabilidade de Washington.

O Ministério das Relações Exteriores afirmou ainda que “qualquer um que exerça pressão máxima sobre a China está escolhendo o alvo errado e fazendo um cálculo equivocado”.

A China sustenta que tem feito esforços para “ajudar” os Estados Unidos no combate ao fentanil, mas que, em vez de trabalhar em conjunto, “os Estados Unidos tentam difamar e culpar a China, além de pressioná-la e chantageá-la com aumentos de tarifas”.

A disputa comercial em torno do tema “não resolverá o problema dos Estados Unidos e minará nosso diálogo e cooperação no combate ao narcotráfico”, advertiu a chancelaria chinesa.

Aumento no orçamento militar

Nesta quarta-feira, a China anunciou que ampliará seu orçamento de defesa em 7,2% neste ano, dando continuidade a seu plano de construir um exército maior e mais moderno para reforçar suas reivindicações territoriais e desafiar a liderança militar dos Estados Unidos na Ásia.

Os gastos militares chineses seguem como os segundos maiores do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e o país já possui a maior marinha do planeta.

O orçamento, estimado em cerca de US$ 245 bilhões, foi apresentado no Congresso Nacional do Povo, a reunião anual do legislativo chinês. O Pentágono e especialistas apontam que os gastos reais da China podem ser até 40% superiores, devido a despesas incluídas em outros orçamentos.

O aumento de 7,2% mantém o mesmo percentual do ano passado, um índice inferior aos crescimentos de dois dígitos registrados em anos anteriores, refletindo a desaceleração da economia chinesa. Os líderes do país estabeleceram uma meta de crescimento de cerca de 5% para este ano.

As tensões com os EUA, Taiwan e Japão, além de disputas sobre territórios no estratégico Mar do Sul da China, são apontadas como os principais motores para o investimento crescente em tecnologia militar avançada. Entre os focos do orçamento estão caças furtivos, a frota de porta-aviões (que passará de três para quatro) e a ampliação do arsenal nuclear chinês.

O governo chinês justifica o aumento do orçamento militar como necessário para exercícios, manutenção e melhorias nas condições de vida dos 2 milhões de militares do país.

China reitera oposição à independência de Taiwan

O Exército Popular de Libertação (braço militar do Partido Comunista Chinês) tem reforçado sua presença em ilhas artificiais no Mar do Sul da China, mas seu principal objetivo é reafirmar o controle sobre Taiwan. A ilha, que opera como uma democracia autônoma, é reivindicada por Pequim como parte de seu território, enquanto mantém estreitos laços com os Estados Unidos.

Nesta quarta-feira, a China enviou um pequeno contingente militar próximo a Taiwan, poucos dias após realizar incursões com dezenas de aeronaves. Essas ações fazem parte de uma estratégia de desgaste das defesas taiwanesas, que foram reforçadas com caças F-16, tanques e mísseis modernizados fornecidos pelos EUA, além de armamentos desenvolvidos internamente.

Durante seu discurso no Congresso, o primeiro-ministro Li Qiang reafirmou que Pequim ainda prefere uma solução pacífica para a questão de Taiwan, mas “se opõe resolutamente” a qualquer movimento em direção à independência formal da ilha e a seus apoiadores estrangeiros.

“Avançaremos firmemente na causa da reunificação da China e trabalharemos com nossos compatriotas taiwaneses para concretizar a gloriosa missão de rejuvenescimento da nação chinesa”, declarou Li.

Por sua vez, o ministro da Defesa de Taiwan afirmou nesta semana que a ilha pretende aumentar seus gastos militares diante da rápida mudança no cenário internacional e das crescentes ameaças dos adversários.

Impacto da crise econômica

Diante do crescimento econômico mais lento, especialistas apontam que a China deverá priorizar objetivos estratégicos sobre reformas sociais e econômicas.

 “Esses recursos são mais importantes para os objetivos do Partido Comunista Chinês de promover uma agenda tecnoindustrial e modernizar suas forças armadas”, explicou Antonia Hmaidi, analista sênior do Instituto Mercator para Estudos da China.

O presidente Xi Jinping, que supervisiona diretamente as Forças Armadas, vem impondo reformas significativas no setor militar, com a destituição de altos oficiais, incluindo dois ex-ministros da Defesa e o chefe do corpo de mísseis.

No entanto, não está claro se essas mudanças reduzirão a influência do setor militar. Após o anúncio do novo orçamento, a agência estatal Xinhua publicou um artigo destacando que a China manteve seus gastos com defesa abaixo de 1,5% do PIB na última década, ao mesmo tempo em que criticou os Estados Unidos por não reduzirem seus próprios gastos militares.

“O desenvolvimento da China fortalece as forças globais pela paz, e o país nunca buscará a hegemonia nem se envolverá em expansionismo, independentemente do estágio de seu desenvolvimento”, afirmou a Xinhua, reiterando a posição chinesa de que sua política militar tem caráter puramente defensivo.

No entanto, um relatório do Departamento de Defesa dos EUA sobre segurança militar na China alertou que o país asiático tem expandido significativamente suas ambições. O documento apontou que o Exército Popular de Libertação (EPL) tem aprimorado sua capacidade de projeção de poder além das costas chinesas.

O redirecionamento da Marinha chinesa para missões em alto-mar e o interesse da Força Aérea em se tornar uma potência estratégica indicam que a China pretende atuar bem além de suas fronteiras imediatas, segundo a análise do Pentágono.

Com informações da AP

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