Homem transportava passageira em
carro de aplicativo, quando foi interceptado por, pelo menos, dois bandidos com
fuzis
Rio - Um motorista de aplicativo
foi abordado e ameaçado por criminosos armados, ao entrar por engano na Cidade
Alta, na Zona Norte. A região faz parte do Complexo de Israel, controlado por
traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP), onde condutores têm sido
interceptados frequentemente pelos bandidos, ao passarem pela área. Em alguns
casos, as vítimas acabam sendo baleadas.
As imagens, divulgadas inicialmente pela BandNews FM e obtidas por O
DIA, foram registradas por câmeras do veículo. O vídeo mostra o
motorista dirigindo por ruas da região do Complexo de Israel e com uma
passageira no banco de trás, quando se depara com uma "trincheira"
aberta no asfalto e sinalizada por cones. Ele retorna de ré e retoma o caminho,
até que entra em uma rua da Cidade Alta, onde há um carro em sua frente, que
também para.
Ao se depararam com um criminoso
armado perto de um poste, a mulher pede para que ele abaixe os vidros do carro
e é possível ouvir uma pessoa gritando a mesma ordem do lado de fora.
Assustados, eles descem do veículo e, logo em seguida, outro criminoso sai de
trás de um caminhão, usando um colete balístico e apontado um fuzil na direção
do automóvel. O registro mostra então o condutor se desculpando com os
bandidos.
"Estou trabalhando, perdão, sou Uber", diz o motorista, enquanto é
xingado e ameaçado pelos criminosos. "Eu estou trabalhando para a moça.
Perdão, desculpa de verdade. Perdão, eu não olhei, estava olhando o caminho
aqui, 'meu chefe', perdão", se justifica a vítima, que pergunta se pode
dar meia-volta. "Vai, some", responde um dos traficantes. "Que
absurdo isso", desabafa o condutor com a passageira, depois que eles
deixam o local. Confira abaixo.
Durante a ação dos criminosos,
ainda é possível ver dois bandidos passando em uma motocicleta, com o garupa
portando um fuzil. Ainda não há informações de quando o caso aconteceu, mas a
abordagem ao motorista e a passageira ocorreu à luz do dia, enquanto
diversos moradores circulavam pela rua, inclusive crianças com uniformes
escolares.
Procurada, a Polícia Militar disse que "tem atuado tanto em ações
pontuais, de maneira técnica, planejada e estratégica com o objetivo de
combater as tentativas de expansão e domínio territorial por parte de
criminosos de diferentes facções que optam pelo enfrentamento armado,
resistindo a abordagem policial e atacando as equipes que estão em
patrulhamento".
Ainda segundo a PM, somente em 2024, as ações resultaram na prisão de
29.752 criminosos e na apreensão de 4.557 adolescentes, bem como na apreensão
de 6.010 armas de fogo, sendo 638 fuzis em todo o território fluminense e de
mais de 68 toneladas de drogas. A corporação informou que também intensificou a
captação e monitoramento de dados de Inteligência e estreitou trabalhos
conjuntos com a Polícia Civil, para mapear e desarticular as mobilizações
criminosas articuladas.
A PM ainda afirmou que "seguirá investindo em tecnologia, capacitação do
efetivo, infraestrutura e logística para tornar cada vez mais a atuação da
corporação precisa e efetiva, visando um único objetivo: a segurança da
população do Rio de Janeiro".
Em nota, a Polícia Civil informou
que, até o momento, as vítimas não procuraram a delegacia para registrar a
ocorrência. Entretanto, ao saber do caso, a 38ª DP (Brás de Pina) iniciou
investigação e os agentes tentam identificar os autores do crime.
Outros casos
Em novembro de 2024, um PM de São Paulo e seu irmão acabaram baleados, quando
passavam pela Estrada do Porto Velho, em um dos acessos à favela da Cidade Alta.
As vítimas seguiam o caminho indicado pelo GPS e foram atingidos na perna, ao
serem alvos de disparos de bandidos. Na ocasião, o familiar do PM estava no Rio
para acompanhar o G20. Eles reagiram e um dos suspeitos pelo crime acabou preso, após ficar ferido e
dar entrada em um hospital.
Poucos dias antes, três policiais penais de Minas Gerais que faziam a escolta
de presos do estado erraram o caminhado para o presídio de Benfica, na Zona
Norte, e também entraram por engano na Cidade Alta, onde foram atacados por
bandidos. Os agentes chegaram a trocar tiros com os traficantes e ficaram
feridos, mas puderam voltar para casa após receberam alta médica.
O Complexo de Israel é formado pelas comunidades de Parada de Lucas, Vigário
Geral, Cidade Alta, Pica-Pau e Cinco-Bocas, e controlada pelo líder do TCP, Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, Alvinho
ou Aarão. Na mira das polícias Civil e Militar há pelo menos 12 anos,
ele é conhecido pela política de expansionismo violento para tomar territórios
do Comando Vermelho (CV). Além disso, na região dominada por ele, há registro
de casos de sequestros e execuções.
Em abril do ano passado, Stanley Pinheiro Fernandes Leite, 19, e outros dois
amigos, entraram por engano na região, foram agredidos e extorquidos pelos
criminosos, que libertaram duas vítimas. No entanto, o jovem não foi liberado.
O rapaz é filho de um sargento da Polícia Militar e, ao vasculharem o celular
dele, bandidos descobriram que ele mora próximo ao Complexo do Chapadão,
dominado por uma facção rival. As hipóteses são de que esses podem ter sido os
motivos para ele ter sido mantido refém pelos traficantes.
Contra Peixão, constam sete mandados de prisão por homicídio, tortura,
associação ao tráfico e ocultação de cadáver e pelo menos 20 inquéritos em
aberto. Recentemente, ele também passou a ser investigado por terrorismo, após um tiroteio
durante uma operação no Complexo de Israel, em outubro de 2024, ter
deixado três
inocentes mortos, ao serem atingidos por balas perdidas vindas da região,
na Avenida Brasil, Linha Vermelha e Rodovia Washington Luiz, três das
principais vias expressas do Rio.
Motorista pede perdão a criminosos armados ao entrar por engano na Cidade Alta.
— Jornal O Dia (@jornalodia) January 16, 2025
Crédito: Reprodução pic.twitter.com/cNCqDUDN0J
O Dia
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