Nesta quarta-feira (30), o Banco Central anunciou um aumento de um ponto percentual na taxa básica de juros da economia, elevando a Selic de 12,25% para 13,25% ao ano. A decisão foi unânime, com todos os 9 diretores votando a favor da elevação.
O aumento de 1 ponto percentual
já era amplamente esperado pelo mercado financeiro e havia sido sinalizado pelo
próprio comitê no último comunicado divulgado pela diretoria, que apontava para
a possibilidade de duas altas nos juros, em janeiro e março, caso o cenário
projetado se confirmasse.
De acordo com o Comitê de
Política Monetária (Copom), não há um limite fixo para o aperto monetário. O
tamanho total da alta de juros está relacionado ao compromisso de trazer a
inflação para a meta de 3% ao ano e à evolução dos principais fatores que influenciam
esse processo. Isso inclui a variação dos preços mais sensíveis à economia e à
política monetária, as projeções e expectativas do mercado para a inflação, o
nível de atividade econômica e os riscos que podem impactar esse cenário.
As projeções para a inflação
seguem em alta, com os analistas do mercado elevando pela 15ª semana
consecutiva a expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA), que agora deve fechar o ano em 5,50%, acima do teto da meta. A pressão
inflacionária também se estende para 2025, com previsão de 4,22%.
Em relação ao Produto Interno
Bruto (PIB) de 2025, houve uma revisão para cima, com projeção de crescimento
de 2,6%, ainda indicando desaceleração em relação a 2024, quando o avanço foi
superior a 3%. Para 2026 e 2027, a economia deve continuar perdendo ritmo. O
resultado oficial do PIB será divulgado pelo IBGE em 7 de março.
Com a decisão, mantém-se a série
de altas na taxa de juros na primeira reunião do Copom chefiada pelo novo
presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula.
Confira a íntegra do comunicado
do Banco Central:
O ambiente externo permanece
desafiador em função, principalmente, da conjuntura e da política econômica nos
Estados Unidos, o que suscita mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da
desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das
principais economias permanecem determinados em promover a convergência das
taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos
mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo
cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário
doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de
trabalho tem apresentado dinamismo. A inflação cheia e as medidas subjacentes
mantiveram-se acima da meta para a inflação e novamente apresentaram elevação
nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação
para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e
situam-se em 5,5% e 4,2%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para
o terceiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária,
situa-se em 4,0% no cenário de referência (Tabela 1).
Persiste uma assimetria
altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação.
Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de
inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por
período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do
que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma
conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto
inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio
persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i)
impactos sobre o cenário de inflação de uma eventual desaceleração da atividade
econômica doméstica mais acentuada do que a projetada; e (ii) um cenário menos
inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio
internacional e sobre as condições financeiras globais.
O Comitê segue acompanhando
com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política
monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o
regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma
relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes.
O cenário mais recente é
marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das
projeções de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado
de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista.
O Copom então decidiu elevar a
taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 13,25% a.a., e entende que
essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o
redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo
fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica
suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno
emprego.
Diante da continuidade do
cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se
confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião.
Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo
de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da
inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial
dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária,
das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e
do balanço de riscos.
Votaram por essa decisão os
seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de
Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela
Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de
Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
Tabela 1
Projeções de inflação no
cenário de referência
Variação do IPCA acumulada
em quatro trimestres (%)
Índice de preços |
2025 |
3º tri 2026 |
IPCA |
5,2 |
4,0 |
IPCA livres |
5,2 |
3,8 |
IPCA administrados |
5,2 |
4,6 |
No cenário de
referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus
e a taxa de câmbio parte de R$6,00/US$, evoluindo segundo a paridade do poder
de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos
próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso,
adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2025. O valor
para o câmbio foi obtido pelo procedimento usual.
Gazeta Brasil
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