De 26 a 29 de outubro, a Casa da Cultura de Paraty promove uma
Mostra de filmes feitos em Paraty nas décadas de 1960, 70 e 80. Patrocinada
pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Cultural, o festival vai celebrar
a época áurea da realização cinematográfica na cidade, com curadoria de Luiz
Carlos Lacerda e presença de cineastas atrizes
A variedade de paisagens e cenários do patrimônio natural
e edificado de Paraty, somada à sua atmosfera artística e boêmia, fizeram da
cidade uma locação ideal para a realização de diversos filmes nas últimas
décadas do século 20. Mas foi nos anos de 1960 a 1980 que a cidade se
transformou em um "estúdio ao ar livre", como diz Luiz Carlos
Lacerda, o cineasta que mais filmou em Paraty.
Lacerda, mais conhecido como Bigode, é o Curador da Mostra de
Cinema de Paraty, promovida pela Casa da Cultura, com patrocínio da
Petrobras e apoio da revista Bravo!, que vai acontecer de 26 a 29 de outubro,
no Cinema da Praça, no Centro Histórico. Embora tenha esse nome, o cinema de 80
lugares fica em um sobrado restaurado e tem ampla ação educativa e de formação
do público, com programação totalmente gratuita.
O Curador da Mostra viveu intensamente essa fase fértil do cinema,
participou de produções como "Azyllo muito louco" (1969) e Como era
gostoso o meu francês (1970), ambos de Nelson Pereira dos Santos, e
dirigiu os longas "Mãos Vazias" (1970), "O princípio do
prazer" (1979) e diversos curtas. "A população se comportava
como se vivesse em um set de filmagem e muitos atuavam como figurantes",
lembra Bigode.
A Mostra vai exibir nove longas e quatro curtas, em sessões diárias
(programação abaixo). Estão confirmadas as presenças das atrizes Claudia Ohana
e Laura Prado e dos cineastas Bruno Barreto e Walter Lima Jr. que, junto com
Luiz Carlos Lacerda, serão protagonistas de um encontro histórico daqueles que
filmaram em Paraty.
Bigode relembra que o primeiro filme feito em Paraty foi o longa
"Estrela da manhã", rodado em 1948 e lançado em 1950 e que, apesar da
presença de Dorival Caymmi no elenco e na trilha sonora, não chegou a ser um
sucesso de público ou crítica. Seria a partir de "Brasil ano 2000"
(1968), de Walter Lima Jr., que se iniciaria um intenso ciclo de produções,
contando com a atuação de figuras do Cinema Novo, como o próprio Walter, Nelson
e Ruy Guerra, além da atriz Leila Diniz, e a participação de paratienses, como
o poeta Zé Kleber à frente.
Além da beleza da arquitetura da cidade, o cineasta destaca que
naquele contexto político do país, em tempos de ditadura militar, o isolamento
foi uma das razões dessa efervescência cultural. "Paraty se tornou
nosso 'doce exílio', um lugar onde a liberdade ainda era possível",
diz. Lembrando que, até 1970, Paraty esteve praticamente isolada do resto do
país, sem ligação rodoviária com os grandes centros, acessível apenas por
barcos ou uma péssima estrada na serra de Cunha.
O filme "Como era gostoso meu francês", de Nelson
Pereira dos Santos, escolhido para a abertura da Mostra, é uma das produções
que marcou essa fase, que se prolonga até 1990, incluindo produções
internacionais. O longa representou o Brasil em Cannes, teve um grande sucesso
de público e mobilizou a população de Paraty na procura de figurantes que
aceitassem filmar despidos e ter o cabelo raspado no corte dos índios
tupinambás.
Entre os títulos emblemáticos, como não lembrar que foi em uma Ilhéus
recriada em Paraty que o turco Nacib (Marcello Mastroianni) se
apaixonou pela sedutora Gabriela (Sonia Braga)? O filme
"Gabriela" (1983), de Bruno Barreto, baseado na obra de Jorge Amado,
ficou marcado no imaginário brasileiro, com trilha sonora de Tom Jobim e uma
trupe que deixou boas lembranças de sua passagem pela cidade no início dos anos
1980.
Das preciosidades dos anos 60, o público poderá conferir "Azyllo
muito louco" (1969), que recebeu prêmio da Crítica em Cannes. Dos anos 80,
a Mostra trará "A bela palomera" (1988, com Claudia Ohana,
Tônia Carrero e Ney Latorraca), de Ruy Guerra, adaptação de um conto de
Gabriel García Márquez, com colaboração no roteiro do próprio escritor, e
"Ele, o boto" ( 1986, com Carlos Alberto Riccelli), de
Walter Lima Jr..
Na noite de abertura (26), o cantor e violonista Raphael Moreira vai
apresentar músicas das trilhas dos filmes e que marcaram a vida boêmia de
Paraty, em um show seguido de degustação de cachaças locais. A Mostra terá
também sessões diárias de "Cine papo", ou bate-papos com convidados,
após os filmes, em parceria com a revista Bravo!, e uma rodada de
"Conversas de cinema" com os cineastas e atores/atrizes presentes, no
domingo (29).
* sobre a Mostra
A Mostra de Cinema de Paraty é um desdobramento da exposição "Para
uma história cultural de Paraty: 1945-2019",que conta com o
patrocínio da Petrobras, em cartaz na Casa da Cultura, até março de 2024,
com apoio da Fundação Roberto Marinho, Prefeitura de Paraty e Secretaria
de Cultura do Rio de Janeiro.
Cenário de 26 filmes de longa-metragem, 9 curtas, além de 21 novelas,
minisséries, e ainda videoclipes, incluindo o mais famoso deles, com Mick
Jagger, Paraty celebra e reafirma sua vocação cinematográfica na
exposição, em que o recorte temporal contempla dois marcos: 1945, ano em
que a cidade tornou-se Monumento Estadual, e 2019, quando se tornou
Patrimônio Mundial da Unesco. "A memória cinematográfica é um
dos temas que surgiram, a partir da necessidade de se rever uma
historiografia de Paraty", diz Cristina Maseda, Diretora da Casa
da Cultura.
O Cinema da Praça, restaurado em 2018, com apenas 80 lugares e projeção
digital, será o palco da Mostra, que representa, na visão do Curador, um
presente para os
paratienses e a cidade, com quem mantém forte relação afetiva. "É
um amor correspondido e muito feliz. Aqui, vivi os melhores anos da minha
vida. Mais do que necessária para resgatar esse ciclo tão rico, a Mostra
vai dar a chance de a população se ver e se reconhecer na tela",
diz Luiz Carlos Lacerda, o Bigode.
SERVIÇO:
Programação Mostra de Cinema de Paraty
26/10 (quinta-feira)
18h– SOLENIDADE DE ABERTURA e exibição do filme VILA DE NOSSA
SENHORA DOS REMÉDIOS DE PARATY, de Pedro Rovai (30 min.)
18h45 - Cine papo com convidados (10 min.)
19h - COMO ERA GOSTOSO O MEU FRANCÊS, de Nelson Pereira dos Santos (90
min.)
21h - APRESENTAÇÃO MUSICAL Raphael Moreira (40 min.) + DEGUSTAÇÃO DE
CACHAÇAS
27/10 (sexta-feira)
17h– BRASIL, ANO 2000, de Walter Lima Júnior (90
min.)
18h35 - Cine papo com convidados (15 min.)
19h– A BELA PALOMERA, de Ruy Guerra (90 min.)
20h30 - Cine papo com convidados (25 min.)
21h – O PRINCÍPIO DO PRAZER, de Luiz Carlos Lacerda. (90 min.) -
Classificação: Maiores de 18 anos
28/10 (sábado)
17h - ELE, O BOTO, de Walter Lima Júnior
18h35 - Cine papo com convidados (15 min.)
19h– AZYLLO MUITO LOUCO, de Nelson Pereira dos Santos. (90 min.)
20h30 Cine papo com convidados ( 25 min.)
21h – GABRIELA, de Bruno Barreto (100 min.)
Classificação: Maiores de 18 anos.
29/10 (domingo)
17 hs – Curtas: O SERENO DESESPERO (12 min.), O ACENDEDOR DE LAMPIÕES (15
min.), PARATY MISTÉRIOS (20 min.), todos de Luiz Carlos Lacerda
17h50 - Conversas de cinema - O Reencontro de Gerações (60
min.)
19h – MÃOS VAZIAS, de Luiz Carlos Lacerda (90 min.) Classificação: Maiores
de 18 anos.
Classificação: Maiores de 18 anos
20h40 – ERENDIRA, de Ruy Guerra (90 min.)
Classificação: Maiores de 18 anos
Mostra de Cinema de Paraty
De 26 a 29 de outubro
Cinema da Praça
R. Mal. Deodoro, 3 - Centro Histórico
IG @cinemadapracaparaty
Exposição "Para uma história cultural de Paraty: 1945 -
2019"
Casa da Cultura de Paraty
Rua Dona Geralda, 194, Paraty - RJ - CEP: 23970-000
Visitação: Terça a sábado, das 10h às 18h, Entrada gratuita
Contato: +55 (24) 99238 4737
www.casadaculturaparaty.org
IG @casadaculturaparaty
http://dlvr.it/SxH6xz
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