© Foto: Eric Lafforgue/Art In All Of
Us/Corbis via Getty
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Para o período
2018-2019, o orçamento da ONU está estimado em US$ 5,4 bilhões. Segundo o
secretário-geral da entidade, António Guterres, o dinheiro acabou no fim de
junho, o que nunca havia ocorrido. Naquele mês, as contas já apresentavam
déficit de US$ 139 milhões.
Na Etiópia,
vivem cerca de 1 milhão de refugiados, principalmente do Sudão do Sul. “A falta
de dinheiro está comprometendo de forma severa a qualidade da proteção prestada
aos refugiados”, disse Messeret Debebe, representante da Administração Etíope
para Refugiados.
Segundo cálculo
da ONU, num acampamento de refugiados, a ajuda alimentar precisa conter 2,1 mil
calorias para cada pessoa. Para um adulto, tal quantidade serve apenas para
evitar que perca peso. Portanto, um corte de 10% ou 20% nas cotas de alimentos
pode ter um impacto real.
Em Ruanda, a
entidade cortou em 25% o volume de alimento em cada porção destinada aos
refugiados do Congo. Em fevereiro, diante da medida, protestos ocorreram e a
polícia interveio e 11 refugiados morreram.
Já em dezembro,
a ajuda alimentar na Somália foi suspensa para 500 mil pessoas. Mesmo na Síria,
o número de beneficiados pelo Programa da ONU para Alimentação caiu de 4
milhões em 2017 para 2,8 milhões em 2018.
No Sudão do
Sul, as refeições também foram cortadas em meados do ano. A conta da ONU é que
faltam quase US$ 800 milhões para conseguir atender aos 2,8 milhões de
refugiados e deslocados internos que fugiram de suas casas desde 2013. No
início do ano, previa-se que a região precisaria de US$ 834 milhões. Mas
recebeu US$ 64 milhões.
Contribuições
Algumas das
piores crises estão sem respostas diante da falta de contribuições
internacionais. Dados da agência da ONU para agricultura e alimentação (FAO)
revelam que, em pelo menos sete países onde a fome é grave, os programas contam
com menos de 10% do orçamento necessário para que a entidade possa distribuir
alimentos.
No início de
2018, a FAO havia previsto gastar US$ 1 bilhão para atender às necessidades
emergenciais de 33 milhões de famintos pelo mundo. Sete meses depois, recebeu
menos de 30% do valor e seus programas estão ameaçados.
Na Líbia, a FAO
solicitou US$ 4,1 milhões. Mas não recebeu nem um centavo. Na Coreia do Norte,
dos US$ 9 milhões orçados, entraram apenas 5,5%. Sobre a guerra na Síria, a FAO
solicitou US$ 120 milhões para garantir alimentos à população. Após sete meses,
recebeu 6,2% do valor necessário.
Países que dez
anos atrás estavam na lista de prioridades de governos pela visibilidade que a
crise dava deixaram de interessar. Um dos casos é o do Haiti. Entre os
funcionários internacionais, o Haiti é o exemplo de um país que sofre de
“fatiga de doadores”, cansados de enviar dinheiro sem um retorno claro e uma
solução em vista.
Demissões
Criada há 70
anos, a agência da ONU para refugiados, a UNRWA, foi obrigada a demitir
funcionários e reduzir o tempo de trabalho de centenas de outros diante da
falta de recursos. Em janeiro, a Casa Branca anunciou que reduzirá sua
contribuição anual de US$ 360 milhões para US$ 60 milhões. O problema é que US$
1 a cada US$ 3 usados pela entidade para pagar seus programas – incluindo a
escolarização de 500 mil crianças – vinha dos recursos americanos.
Sem opção, a
agência anunciou a demissão de 267 pessoas em Gaza e na Cisjordânia a partir
deste mês. Outros 500 funcionários passarão a ganhar por horas, com o período
de trabalho reduzido. A agência foi criada em 1948 para ajudar os palestinos
que tiveram de deixar suas casas com a criação do Estado de Israel. Hoje,
presta serviços a 3 milhões de pessoas.
A UNRWA, que
por certo tempo recebeu apoio do Brasil, decidiu se lançar em uma operação
diplomática para conseguir recursos e compensar os cortes americanos. “Estamos
determinados a manter os serviços para os milhões de palestinos que dependem de
nós na Jordânia, no Líbano, em territórios palestinos e na Síria”, disse Chris
Gunners, representante do programa. Uma das saídas tem sido encontrada com o
Banco Mundial, que autorizou o envio de US$ 90 milhões para financiar as
atividades da entidade, até o final do ano.
PARA
ENTENDER
Dinheiro nunca
acabou tão cedo
De uma forma
sem precedentes, a ONU vive uma penúria de recursos que começa a afetar sua
capacidade de responder a algumas das maiores crises internacionais, deixando
refugiados ou famintos sem atendimento em diferentes partes do mundo.
A crise
financeira na ONU não é nova, mas desta vez a situação é mais grave. Numa carta
enviada a todos os governos do mundo, o secretário-geral da entidade, Antonio
Guterres, deixou claro que nunca sua organização entrou no vermelho no
orçamento tão cedo no ano fiscal.
A ONU conta com
dois orçamentos. Um deles – o regular – cobre gastos administrativos e fundos
para programas específicos. O segundo cobre as operações de paz, estimadas em
US$ 6,7 bilhões para dois anos. A ajuda do Banco Central para financiar as
atividades da ONU é vista por Nickolay Mladenov, coordenador especial para o
Processo de Paz do Oriente Médio, como essencial.
Jamil Chade, Correspondente
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