Caminhões de terceirizada já estavam
escondidos em Cabo Frio
antes de empresa ganhar licitação, diz PF
(Foto: Reprodução/Inter TV)
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A denúncia
também revela que o contrato dos funcionários das empresas contratadas pela
Comsercaf só seria efetivado se as pessoas tivessem título de eleitor na
cidade.
Caminhões da terceirizada Prime já estavam
escondidos em Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio, antes de a empresa ser
contratada pela Comsercaf para fazer a limpeza na cidade, segundo o delegado da
Polícia Federal, Felício Laterça. Em imagens exclusivas divulgadas pela PF, os
veículos aparecem cobertos por lonas em um terreno ainda em janeiro deste ano.
Segundo o delegado, os caminhões escondidos
chamaram a atenção porque o contrato com a empresa que fazia a coleta de lixo
no município havia sido encerrado pela Prefeitura de Cabo Frio por causa de um
decreto de calamidade financeira. Na época, o município tinha uma dívida de R$
300 milhões e alegou que precisava regularizar serviços que estavam parados,
como a limpeza pública. Dessa forma, a Prime foi contratada em caráter
emergencial.
"E, aos poucos, a empresa [Prime] foi se
capitalizando. Passados quatro meses, compraram quatro caminhões 0 km e já
haviam encomendado mais cinco caminhões. Essa empresa, inclusive, com fôlego do
dinheiro desviado do município de Cabo Frio, estava se capitalizando e se
tornando uma empresa forte. Inclusive com perspectiva de atuar noutros
municípios. Já estava pensando em atuar num município de Minas Gerais".
Em entrevista exclusiva ao RJ Inter
TV 1ª Edição, o delegado deu outros detalhes sobre as investigações. Outras
imagens mostram os donos da empresa Prime chegando ao Rio de Janeiro para, de
acordo com a PF, se encontrar com Cláudio Moreira, presidente da Comsercaf que
foi preso na terça-feira (5) na Operação
Basura. Segundo a Justiça, o esquema de propina que desviou R$ 60
milhões em dinheiro público foi montado durante esse encontro. Além de Cláudio,
um policial militar e dois empresários foram presos.
Com o dinheiro do esquema, Cláudio Moreira
comprou carros de luxo e pretendia comprar uma mansão em Armação dos Búzios,
informou a PF. Ainda de acordo com o delegado, os empresários compraram
fazendas.
"Compraram em nomes de terceiros. Na
residência deles, encontramos um veículo Porsche que deve custar em torno de R$
300 mil a R$ 400 mil. Na outra fase da investigação, na fase da lavagem de
dinheiro, nós vamos buscar esses bens e tentar recuperar o dinheiro desviado do
município", explicou o delegado Felício.
Segundo a PF, os empresários chegaram a ter
em mãos R$ 1 milhão em espécie. Esse dinheiro era destinado a Cláudio Moreira.
"Veio parar na mão do senhor Cláudio
Moreira, presidente da Comsercaf. Porque um veículo que nós apreendemos foi
declarado em R$ 100 mil e tem um valor muito superior, por ser um veículo
blindado, foi pago em espécie".
Além das investigações da Prime, que faz a
limpeza do município, o delegado falou sobre o contrato da Comsercaf com a
empresa Hashimoto Manutenção e Comércio LTDA que cuida da iluminação pública.
De acordo com a PF, o contrato é de R$ 508 mil por mês.
"Não tenho dúvida de que esse valor é um
excesso e isso aí é evidente que há desvio", afirmou o delegado.
As investigações da Polícia Federal apuraram
que em Guarulhos, em São Paulo, o mesmo contrato de iluminação pública é de R$
140 mil por mês para 1.349.113 habitantes. Já em Londrina, no Paraná, o valor é
de R$ 130 mil para 485.522 pessoas. Cabo Frio tem apenas 186.227 habitantes.
"Ou
Cabo Frio é muito bem iluminada ou as outras cidades estão às escuras",
disse o delegado Felício.
O contrato de iluminação pública foi firmado
em janeiro e está sendo analisado pela Justiça, segundo a PF.
A denúncia apresentada à Justiça revela que o
contrato dos funcionários das empresas contratadas pela Comsercaf só seria
efetivado se as pessoas tivessem título de eleitor em Cabo Frio. Se o domicílio
eleitoral fosse outro, o funcionário teria que providenciar a transferência.
Além disso, o delegado explicou que
funcionários recebiam dinheiro e repassavam a maior parte do valor a um agente
público cuja identidade ainda não pode ser revelada.
"Tinha esquema na parte de salário
também. Pessoas que recebiam um trocado para emprestar o nome; salários da
Comsercaf totalizando uns R$ 3,9 mil líquidos, davam R$ 500 reais para a
pessoa. A pessoa que repassava esse dinheiro, ela ficava com mais um trocado, a
pessoa que trabalhava para a família Moreira. E R$ 3 mil, ele entregava todo
mês, não esse valor como de outras pessoas, para um agente público que a gente
não pode revelar".
O G1 tentou contato com a defesa dos
empresários presos pela Operação Basura. Em um primeiro momento, o advogado
disse que daria um posicionamento sobre seus clientes e afirmou que outra
pessoa representava Cláudio Moreira. O advogado dos empresários não enviou a
nota e não atendeu mais as ligações do G1.
A reportagem entrou em contato com o outro
defensor e foi informada que ele não representa o presidente da Comsercaf.
O G1 continua tentando encontrar a defesa de Cláudio Moreira.
O G1 também entrou em contato com a
empresa Hashimoto e aguarda posicionamento da empresa sobre as investigações. A
reportagem também aguarda respostas da Prefeitura de Cabo Frio sobre as
denúncias.
Por Inter TV, Região dos Lagos
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