Diante do
resultado das eleições, Maduro declarou
que o
chavismo 'triunfou' (Foto: Presidencia/AFP)
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Ampla
vitória que o Conselho Nacional Eleitoral concedeu ao grupo de Nicolás Maduro -
vencedor em 17 dos 23 Estados - e denúncia de fraude abrem nova etapa na crise,
que têm potencial para provocar mais conflitos políticos e sanções em um
contexto de grave crise econômica.
Após quatro
meses de luta nas ruas, dois meses e meio de trégua e eleições regionais
vencidas de forma "taxativa" pelo grupo político de Nicolás Maduro e
não reconhecidas pela oposição, a Venezuela entra em uma nova fase.
Os resultados
que deram ao chavismo 17 dos 23
governos estaduais do país e levou o presidente a declarar que o
chavismo "triunfou". Por sua vez, Gerardo Blyde, diretor da Mesa da
Unidace Democrática (MUD), a coalizão que reúne a maior parte da oposição,
disse que "nem a Venezuela nem
o mundo aceitarão essa ficção".
Nesta
segunda-feira (16), a MUD fez um chamado para atos nas ruas. Serão como os
protestos de abril a julho, que deixaram 120 mortos? As sanções internacionais
contra um governo visto com suspeita por muitos países serão ampliadas? Cessará
de vez o diálogo?
Diante desse
cenário incerto em relação à volta dos conflitos e de novas sanções, a crise da
economia do país, que tem a maior taxa de inflação do mundo e sofre com a
escassez de alimentos, medicamentos e de outros produtos básicos, pode se
agravar ainda mais.
"É o pior
cenário possível", diz o economista Luis Vicente León, diretor do
instituto de pesquisa Datanálisis. Ele avalia que as eleições não foram
transparentes, mas não se aventura a julgar os dados do Conselho Nacional
Eleitoral (CNE), a quem a oposição acusa de fraude.
Mas o analista
acredita que o triunfo do governo no número de governos regionais eleitos e no
número total de votos a nível nacional (54% ante 45% da oposição, segundo
Maduro) terá consequências negativas para o país: "É um resultado que não
será aceito pela oposição nem pela comunidade internacional".
Sanções
O governo
celebrou ter vencido na grande maioria dos Estados e, com exceção de Zulia, em
todos os mais importantes - a oposição venceu também em Mérida e Táchira, que
foram o epicentro dos protestos contra Maduro, e em Anzoátegui e Nueva Esparta.
Ainda que tenha
se fortalecido ao ampliar de três para cinco o número de Estados que governa, a
oposição ficou longe dos 18 Estados nos quais imaginava que venceria.
Gerardo Blyde,
porta-voz da MUD, já disse que não reconhecerá os resultados, que são muito
diferentes do que os que a coalizão festejava na tarde de domingo de forma
antecipada como uma vitória "gigantesca".
Uma pesquisa da
Datanálisis apontava que 45% dos eleitores votariam em candidatos da oposição,
enquanto 21% optariam por nomes do governo, como destaca Will Grant,
correspondente da BBC em Caracas.
Isso levou
opositores a acusarem fraude no processo, mas outro levantamento da mesma
empresa indicava que a popularidade de Maduro aumentou seis pontos percentuais
após as sanções aplicadas pelos Estados Unidos.
O governo
americano deve ficar mais uma vez ao lado da oposição, afirma Grant. É provável
que canadenses, União Europeia e o Grupo de Lima, formado por 12 países da
América Latina, também sigam a MUD e rejeitem um processo eleitoral que foi
polêmico desde o início.
O diretor da
Datanálisis avalia que se pode esperar, além "da denúncia de fraude e do
chamado a uma luta distinta da eleitoral, intensificação das sanções ao país e
um impacto sobre as possibilidades de negociação".
A oposição
denunciou, entre outras coisas, que o CNE não permitiu a substituição na cédula
eleitoral oficial dos candidatos da coalizão que foram derrotados nas eleições
primárias.
Também se
queixou da mudança de local de dezenas de centros de votação, feita sob a
alegação de falta de estrutura ou ocorrência de violência na votação da
Assembleia Constituinte, em julho, o que teria dificultado a participação de
milhares de eleitores neste domingo.
Os países e
blocos críticos à Venezuela duvidam do caráter democrático do governo e pedem a
libertação de presos políticos, diálogos, reconhecimento do Parlamento e
processos eleitorais justos.
A União
Europeia deverá avaliar nesta semana sanções como as que foram impostas por
Estados Unidos e Canadá. Os Estados Unidos têm avaliado inclusive uma possível
medida contra as importações de petróleo da Venezuela, que obtém a partir desse
produto in natura 96% de suas divisas, mesmo diante da crise do setor.
Impacto na
economia
Para León,
"a oposição fica dependente de ações internacionais questionáveis, porque
as sanções podem ter um forte impacto sobre o país e sua população".
As previsões do
cenário econômico são muito ruins, ainda que a Venezuela conte com o apoio de
Rússia e China como seus principais aliados. O Fundo Monetário Internacional
(FMI) publicou estimativas revisadas sobre o país e prevê uma inflação de
2.300% para 2018 - de longe, a maior do mundo - e uma queda de 12% do Produto
Interno Bruto em 2017 e de 6% no próximo ano.
Também espera
um desemprego de 30%, que seria o mais alto da região. "Tudo isso
amplifica a crise, não aumenta a confiança, há mais risco, mais sanções, mais
conflitos, menos chance de negociação", analisa León.
Mas a batalha
internacional parece ser a única que a oposição pode ganhar.
Após 18 anos de
chavismo, a MUD conseguiu um importante triunfo nas eleições legislativas de
dezembro de 2015 e passou a organizar um referendo para revogar o mandato de
Maduro, que o CNE suspendeu por presunção de fraude na coleta de assinaturas de
apoio à sua realização.
Desde abril,
promoveu uma luta nas ruas depois que o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ)
usurpou as funções do Parlamento. Mas os protestos resultaram em 120 mortos e
na frustação gerada pela criação de uma Assembleia Constituinte como o governo
federal desejava.
Em meio a esse
clima, não conseguiu convencer a todos os seus setores a participar e votar nas
eleições de domingo, que teve uma participação de 61,14% da população. E León
acredita que o desânimo se espalhará pela oposição, fazendo com que seja
difícil mobilizar de novo as ruas, estratégia que já cobrou sacrifícios sem
trazer os resultados desejados.
'Encurralada'
"A
oposição está encurralada pelas forças que controlam o poder, as armas e que
estão dispostas a tudo", avalia o especialista.
"Quando se
perde, e quando o inimigo é maior, há a possibilidade de tentar construir uma
maioria no futuro, mas a oposição vê que o governo permanecerá no poder mesmo
sendo minoria. Então, as perspectivas são lutas para as quais não tem estrutura,
capacidade nem organização para travar."
Por sua vez, o
governo celebra, ainda que tenha diante de si o desafio de gerir uma situação
econômica cada vez mais crítica. "A revolução alcança um nível de
irreversibilidade", disse no domingo Diosdado Cabello, um dos principais
dirigentes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
Após 18 anos no
poder, o chavismo segue parecendo ser invencível - que não pode ser derrotado
nas ruas ou nas urnas e é imune a tudo, inclusive a uma crise que se agrava a
cada dia.
Por BBC
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