© MARCIO
FERNANDES/ESTADÃO Apesar de condenado,
Lula está fora da cadeia, diz professor
|
A esperança na
Lava Jato continua, mas a percepção de que a classe política vai conseguir pôr
um ponto final nas investigações cresce a cada dia. É o que mostra a mais
recente pesquisa Pulso Brasil, do instituto Ipsos, sobre o futuro da maior
operação anticorrupção já deflagrada no País. “A pesquisa mostra que o anseio
por justiça continua sendo melhor representado pela Lava Jato, mas, ao mesmo
tempo, indica que a população não está indiferente ao poder de reação do mundo
político aos seus desdobramentos”, disse o diretor da Ipsos Public Affairs,
Danilo Cersosimo.
Entre os
entrevistados, 94% disseram que “a Lava Jato deveria continuar com as
investigações até o fim, custe o que custar”. Ao mesmo tempo, de julho para
setembro, cresceu de 19% para 33% o índice dos que acreditam que “a classe
política vai acabar com a Lava Jato”.
Além disso, a
pesquisa apontou em setembro que, para 76% dos entrevistados, a operação “vai
fortalecer a democracia no Brasil”. Embora a crença no poder transformador da
Lava Jato ainda seja significativa, ela já foi maior. Em maio, 86% se diziam
confiantes na contribuição da operação para o amadurecimento da democracia no
País.
Ainda segundo o
levantamento, 71% concordam que a Lava Jato pode transformar o Brasil em um
País sério. Mais da metade dos entrevistados (56%) acreditam que a operação
está investigando todos os partidos – mas 40% já sentem o cheiro de “pizza”
saindo do forno.
Para o
cientista político Vitor Oliveira, da consultoria política Pulso Público, o
desejo quase que unânime de que a operação “continue até o fim, custe o que
custar”, remonta aos primeiros dias do movimento pró-impeachment da presidente
cassada Dilma Rousseff. “Esse desejo ainda é resquício daquilo que parecia ser
um dos poucos consensos na sociedade: a importância da Lava Jato. A operação
sempre esteve acima das instituições que ela investigou e investiga. Por isso,
ainda guarda esse prestígio entre a população.”
Apesar do
“prestígio”, Oliveira se concentrou no dado que aponta a percepção popular de
um contra-ataque político em relação aos desdobramentos das investigações. “A
ideia de que a Lava Jato não vai atingir os políticos começa a crescer quando a
operação esbarra no foro privilegiado, quando esbarra em nosso próprio sistema
e na lentidão dos julgamentos.”
“É evidente que
a tramitação no Supremo Tribunal Federal é diferente do que acontece em
Curitiba, com o juiz Sérgio Moro (que conduz a Lava Jato na primeira
instância). Às vezes, isso causa confusão na população, que acaba
entendendo que a própria Lava Jato estaria fraquejando na hora de condenar os
políticos”, afirmou Oliveira.
Lula. Já
para o cientista político e professor do Mackenzie Rodrigo Augusto Prando, a
percepção de que o mundo político pode frear a Lava Jato pode ser ilustrada com
o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Veja o caso do
ex-presidente. Embora condenado em primeira instância, ele continua livre e
fazendo campanha pelo Brasil contra a própria Lava Jato. Isso é muito forte. A
Lava Jato colocou empreiteiros na cadeia, mas não conseguiu que Lula se
tornasse um indivíduo como outro qualquer e fosse preso.”
Prando ainda
citou outros fatores para que o receio de que a Lava Jato termine esmagada pela
política cresça. “Além do Lula, o excesso de ativismo do Judiciário também
trouxe desgastes à operação. Também podemos colocar nesse pacote as ações do
ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. A forma como a delação dos
irmãos Batista da JBS foi tratada serviu para o desprestígio da investigação”,
afirmou.
O cientista
político Marco Antônio Teixeira, da Fundação Getulio Vargas (FGV), disse que os
resultados da pesquisa mostram que a Lava Jato se prolongou demais. “Apesar da
duração da operação, a população ainda não viu uma melhora do quadro político –
e até alguns apoiadores ferrenhos da Lava Jato já foram pegos em casos de
corrupção”, afirmou. “Então, começa a arrefecer a sensação de que a Lava Jato
pode acabar com os abusos da classe política. Ao contrário, aumenta a sensação
de que a classe política é quem vai triunfar.”
A pesquisa
ouviu 1.200 pessoas entre 1.º e 12 de setembro. “É provável que as próximas
pesquisas ainda mostrem um crescimento desse receio de que a classe política
acabe com a Lava Jato. Fatores como a recusa em aceitar a segunda denúncia
contra o presidente Michel Temer e a vitória do senador Aécio Neves no Senado
podem aumentar a desconfiança da população”, disse Cersosimo.
0 comentários:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentario.
Fique sempre ligado do que acontece em nossa cidade!