BRASÍLIA - Às vésperas de a
segunda denúncia contra o presidente Michel Temer chegar à Câmara, o presidente
da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez nesta quarta-feira, 20, duras críticas ao
peemedebista, e disse que ele faltou com a palavra e ameaçou com a retaliação
do DEM em votações de interesse do governo. Mais cedo, em entrevista ao Estadão/Broadcast,
Maia pediu que o Palácio do Planalto pare com o “fogo amigo” e seja mais
respeitoso durante a tramitação da ação penal contra Temer, por organização
criminosa e obstrução da Justiça.
Segundo Maia, que ocupa
interinamente a Presidência da República até a manhã de sexta-feira, o
mal-estar com o Planalto se deve ao fato de o PMDB ter filiado, no início deste
mês, o senador Fernando Bezerra (PE), ex-PSB. O DEM vinha negociando havia
meses a migração do parlamentar e de outros deputados para sua legenda.
“Quando a gente faz um acordo, tem
de cumprir a palavra. A coisa mais importante da política é a palavra. Eu já
avisei o presidente, isso causou muito desconforto dentro da bancada”, disse.
Maia se referia ao episódio, durante a tramitação da primeira denúncia contra
Temer, por corrupção passiva, na Câmara, quando o peemedebista teve um encontro
com integrantes da cúpula do PSB. Na época, segundo Maia, Temer foi a um jantar
em sua casa negar que o PMDB estivesse fazendo ofensiva no PSB.
Na Câmara, na quarta-feira à
noite, o deputado destacou que o fato de os ministros Moreira Franco
(Secretaria-Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil) terem participado do ato de
filiação de Bezerra mostrou que há uma “digital” do governo na iniciativa.
“Mandei mensagem para o presidente Temer falando da ação do presidente do
PMDB (senador Romero Jucá) e de alguns ministros do palácio”,
afirmou.
“A gente não pode ficar levando
facada nas costas do PMDB, principalmente de ministros do Palácio e do
presidente do PMDB”, afirmou Maia. As críticas vieram a público depois de o
deputado fluminense saber de abordagens do PMDB para tentar atrair o deputado
Marinaldo Rosendo (PSB-PE), que está acertado de ir para o DEM. Procurados
pelo Estadona quarta-feira, Moreira, Padilha e Jucá não foram
encontrados.
Para Maia, o governo e o PMDB têm
tratado o seu partido como “adversário” e isso poderá se refletir na relação da
bancada com o Planalto. “Se é assim que eles querem tratar um aliado, eu não
sei o que é um adversário. Quero que isso fique registrado, para que, quando a
bancada do Democratas tiver uma posição divergente, o governo entenda. Há uma
revolta muito grande na bancada, não virou rebelião ainda, mas há revolta.”
Condução. Apesar das
críticas, Maia afirmou que essa indisposição não deve interferir na segunda
denúncia. “Não vamos misturar uma coisa com a outra. Cada deputado vai votar
com a sua consciência”, disse.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast no
gabinete de Temer antes de dar as declarações contra o PMDB, Maia disse que vai
conduzir o processo da segunda denúncia da mesma forma que tratou a ação por
corrupção passiva já barrada na Câmara. “Espero que, nesta segunda, o Palácio
seja mais respeitoso comigo. E o que fiz na primeira farei novamente: manter
minha imparcialidade”, disse Maia.
Após participar de comemoração da
data nacional do Chile, na noite de quarta-feira, Maia disse ainda que a
votação da segunda denúncia estará concluída em outubro. “Tem o feriado de 12
de outubro. Tem de esperar para ver quando o texto sai da comissão. Dependendo do
dia, pode votar antes ou depois do feriado. Mas durante o mês de outubro
certamente esta matéria estará resolvida”, afirmou.
Maia disse que quer votar o texto,
“o mais rápido, mas respeitando o regimento”. Para ele, é importante que “a
gente possa avançar nesta pauta”, que reconheceu que atrasou votação das
reformas no Congresso. Maia avisou, no entanto, que as reformas atrasaram
porque não seria possível um presidente estar denunciado e ficar esse processo
parado na Cãmara. Para ele, era preciso que ele tivesse início, meio e fim na
Câmara dos deputados.
O presidente em exercício disse
ainda que neste novo processo não falará nada sobre o tema. “Eu vou ficar bem
distante desse assunto. Não vou conversar com deputado, ou emitir opinião
poque, na primeira denúncia, minha opinião foi mal interpretada pelo Palácio do
Planalto”, desabafou. “As vozes do Palácio, agora, terão o meu silêncio
absoluto. Nenhuma opinião. Nem contra, nem a favor”, ironizou.
Previdência. Desde
segunda-feira, Maia ocupou interinamente a Presidência no lugar de Temer, que
viajou aos Estados Unidos e chega na madrugada desta quinta-feira, 21. Maia
também disse que o DEM não pretende convidar o prefeito de São Paulo, João
Doria (PSDB), para se filiar à sigla e sair candidato.
Segundo o deputado, se a denúncia
for rejeitada com o mesmo quórum da primeira, será ainda mais difícil aprovar a
reforma da Previdência. “Infelizmente, o dado de hoje é que um resultado da
segunda denúncia parecido com o primeiro gera mais dificuldades e o nosso
trabalho será redobrado”, disse.
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