O aeroporto
Salgado Filho é um dos que está na lista
de
concessões (Jefferson Bernardes/AFP/VEJA)
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Com as grandes construtoras penduradas
na Lava Jato, a licitação de aeroportos deve ser protagonizada pelas companhias
internacionais
O primeiro leilão de concessão da
era Temer deve ter uma cara bem diferente das disputas
verificadas nos governos Lula e Dilma Rousseff. Com as grandes construtoras
penduradas na Lava Jato e sem a presença da Infraero, a licitação dos aeroportos de
Salvador (BA), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS) e Florianópolis (SC), marcada
para quinta-feira, deve ser protagonizada pelas companhias internacionais e
fundos de investimentos.
A lista de candidatos às
concessões é ampla. Entre as operadoras estrangeiras de aeroportos, estão as
espanholas AviAlliance, Aena e OHL, a suíça Zurich, a argentina Corporación
América, a alemã Fraport e a francesa Vinci. Do lado brasileiro, surgem grandes
fundos como Pátria e Vinci Partners, a empresa de infraestrutura CCR e algumas
construtoras, como a CR Almeida.
Na semana passada, a maioria delas
estava debruçada sobre planilhas para traçar as estratégias e definir se vão ou
não participar da disputa. Apesar de terem de entregar as propostas hoje na
BM&F Bovespa, na sexta-feira algumas ainda tentavam ter aprovação dos
acionistas para entrar no leilão e outras trabalhavam em acordos com
construtores caso vençam a concessão.
Fontes ouvidas pela reportagem
afirmam que a tendência é que as estrangeiras participem da licitação em
parceria com empresas ou fundos brasileiros. É o modelo seguido pela
AviAlliance, que se uniu ao Pátria, e pela Zurich, com a Vinci Partners. No
mercado, também se cogitava a parceria entre a Fraport e a CR Almeida. Mas
algumas podem entrar sozinhas, como a Corporación América, que administra os
aeroportos de Brasília e de Natal.
Ao contrário do que ocorreu nas
concessões passadas, protagonizadas pelas grandes construtoras, agora boa parte
das empreiteiras não deve entrar como investidora, mas apenas no consórcio
construtor. Para alguns grupos, a escolha da empresa que vai tocar as obras
deve ficar para um segundo momento, depois da disputa. Mas, para reduzir os
riscos, empresas estrangeiras têm preferido fechar acordos antes de entregar a
proposta. Segundo fontes, Racional e Queiroz Galvão estavam entre as candidatas
para tocar as obras de alguns grupos.
Apesar da quantidade de
interessados que estudaram os quatro aeroportos, ninguém garante que o leilão
será competitivo nem se terá ágios elevados como nas concessões passadas
(Guarulhos, 373%; Brasília, 673%; Viracopos, 159%; Galeão, 294%; e Confins,
66%). Em todos esses aeroportos, havia participação direta ou indireta de
construtoras.
Competição
“Esse leilão está mais justo. Pode
não ter ágio (como no passado), mas terá pretendente”, afirma o sócio da BF
Capital, Renato Sucupira, que fez os estudos de viabilidade dos quatro
aeroportos que vão a leilão (dois foram selecionados pelo governo). Em
Brasília, o clima também é de cautela. Fontes do governo acreditam que o leilão
terá interessado, mas não descartam a possibilidade de algum lote dar vazio, ou
seja, não ter interessado.
De fato, a preocupação aumentou na
sexta-feira, quando a espanhola OHL, com um grupo coreano (KAC), desistiu de
participar do leilão. Um dos entraves, que também pode afastar a presença da
CCR, é a questão da defasagem de demanda. Os estudos do governo são de 2015.
Mas, no ano passado, o volume de passageiros caiu 19% em Salvador, 13% em
Fortaleza, 9% em Porto Alegre e 5% em Florianópolis, afirmam fontes que estão
acompanhando os estudos. Isso atrapalha a elaboração da proposta, diz um
candidato ao leilão.
Por outro lado, houve correções em
relação ao processo anterior. A Infraero, que nos últimos leilões teve
participação compulsória de 49% em todos os aeroportos, foi excluída das
concessões. Essa foi uma medida para tentar atrair investidor estrangeiro já
que as grandes construtoras, que lideraram os consórcios vencedores dos leilões
passados, não têm capacidade financeira para entrar na disputa. Além disso,
houve melhora nas condições de pagamento das outorgas, afirmou outro candidato
à licitação.
Estrangeiros
Segundo especialistas, a
expectativa é que os aeroportos do Nordeste tenham mais competição. Uma das
explicações é a maior proximidade com a Europa e a possibilidade de trazer voos
internacionais diretos para Salvador e Fortaleza. “O apelo comercial é maior,
já que esses terminais têm maior capacidade de trazer estrangeiros”, disse uma
fonte. De qualquer forma, alguns aeroportos também têm problemas delicados que
afetam as decisões dos investidores.
Em Salvador, por exemplo, a
construção da segunda pista terá de ser feito em uma área de dunas, o que
significa ter problemas com órgãos ambientais. O edital tentou resolver a
questão, dizendo que se não for possível construir haverá um reequilíbrio
econômico para retirar as obrigações do concessionário. “Mas é um fator de
insegurança”, disse uma empresa interessada no leilão. A extensão da pista de
Porto Alegre também sofre algumas restrições, já que há uma invasão na área.
Para o governo, o leilão desta
semana pode dar fôlego novo à economia, que vem de dois anos de recessão. De
acordo com o edital de licitação, os quatro aeroportos vão exigir investimentos
de 6,61 bilhões de reais durante o período de concessão. Além disso, o leilão
vai reforçar o caixa do Tesouro, já que uma parte da outorga terá de ser paga à
vista (25% do preço mínimo mais ágio). No mínimo, o governo federal, que vive
grave crise fiscal, pode arrecadar cerca de 750 milhões de reais.
(Com Estadão Conteúdo)
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