Estados Unidos têm salvaguardas
efetivas contra uma eventual decisão intempestiva de ataque nuclear tomada pelo
presidente?
Na sexta-feira, um assessor
militar desconhecido será visto acompanhando o presidente Barack Obama até a
cerimônia de posse de Donald Trump no Capitólio.
Esse militar estará carregando uma
bolsa contendo uma maleta chamada "a bola nuclear". Dentro dela há um
aparelho digital que mede 12,7 cm por 7,3 cm conhecido como "o
biscoito".
Ele contém os códigos de
lançamento para um ataque nuclear americano. Na hora da posse, o presidente
eleito já terá passado por um treinamento sobre como ativar o dispositivo. Mas
no momento em que Donald Trump fizer o juramento e assumir o cargo de
presidente, o assessor militar e a bolsa passarão discretamente para o lado
dele.
Trump terá a autoridade exclusiva
de ordenar uma ação militar que poderia provocar mortes de milhões de pessoas
em menos de uma hora. A questão que passa pela cabeça de muita gente atualmente
é: dados os seu temperamento impulsivo e a sua dificuldade em aceitar críticas,
quais serão as salvaguardas - se elas existirem - para impedir uma decisão
impetuosa sua com consequências catastróficas?
Primeiro, é preciso dizer que
Donald Trump recuou em relação a alguns comentários provocativos que havia
feito sobre o uso de armas nucleares. Ele disse em um comunicado recente que
seria "a última pessoa a usá-las", apesar de não ter descartado
totalmente seu emprego.
Outras figuras de alto escalão
estão envolvidas na cadeia de comando, como o secretário de Defesa, o general
da reserva James Mattis. Mas Mark Fitzpatrick, especialista em não proliferação
de armas nucleares do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos em
Washington, diz que, no final, a autoridade individual para lançar um ataque é
do presidente.
"Não há freios e contrapesos
na autoridade do presidente para lançar um ataque nuclear", afirmou.
"Mas entre o momento em que
ele autoriza um (ataque) e o estágio em que ele é realmente realizado, muitas
pessoas são envolvidas".
A ideia de um presidente
intempestivo tomando uma decisão monumental como essa, individualmente, não é
realista.
Se ele desse a ordem, o secretário
de Defesa seria obrigado a cumpri-la. Mas, em tese, ele poderia se recusar a
obedecer se tivesse razões para duvidar da sanidade do presidente. Mas isso
poderia ser considerado um motim e o mandatário poderia destituí-lo e
encarregar o vice-secretário de Defesa a cumprir a ordem.
Segundo a Constituição dos Estados
Unidos, o vice-presidente poderia, em teoria, declarar o presidente
psicologicamente incapaz de tomar a decisão, mas para isso ele precisaria ter o
apoio da maioria do gabinete de governo.
Então, como tudo ocorreria na
prática?
Dentro da "bola
nuclear", que nunca sai do lado do presidente, está um "livro
negro" de opções de ataque. Ele pode selecionar uma delas depois de se
identificar como comandante-em-chefe usando um cartão plástico especial.
Entre o folclore de Washington, está
uma história de um presidente que esqueceu seu cartão de identificação em um
paletó enviado à lavanderia.
Uma vez que o presidente
selecionar sua opção de ataque em um "menu" pré-estabelecido, a ordem
é passada pelo presidente do grupo de Chefes de Gabinete para a sala de guerra
do Pentágono e depois - usando códigos de autenticação lacrados - para o
Quartel General do Comando Estratégico dos Estados Unidos na base da Força
Aérea de Offutt, em Nebrasca.
A ordem para disparar é
transmitida para as equipes de lançamento por meio de códigos criptografados
que são comparados com códigos trancados em cofres nos locais de lançamento.
Tanto os Estados Unidos como a
Rússia possuem mísseis nucleares suficientes para destruir mutuamente suas
cidades várias vezes seguidas. Acredita-se que os americanos tenham 100 ogivas
nucleares apontadas apenas para Moscou. Os arsenais desses dois países
representam 90% do total de ogivas nucleares existentes no mundo.
Segundo dados de setembro de 2016,
estima-se que a Rússia tenha 1.796 ogivas nucleares estratégicas instaladas em
múltiplas plataformas de lançamentos de mísseis intercontinentais, submarinos
nucleares e aviões bombardeiros estratégicos.
Sob um programa criado pelo
presidente Vladimir Putin, Moscou recentemente investiu bilhões de rublos no
aprimoramento de seus mísseis nucleares. Isso inclui manter uma estrutura na
qual um arsenal de mísseis balísticos ficam constantemente viajando por uma
rede de túneis sob as florestas da Sibéria.
Também em setembro de 2016, os
Estados Unidos tinham 1.367 ogivas nucleares distribuídas principalmente em
silos de mísseis subterrâneos. Sua natureza estática os torna vulneráveis a uma
primeira leva de ataque. Mas eles também estão distribuídos em submarinos
nucleares, mais difíceis de detectar, e em bases aéreas (onde podem ser
despachados rapidamente em aviões bombardeiros).
A Grã-Bretanha tem cerca de 120
ogivas nucleares estratégicas, das quais somente um terço está em submarinos. A
Marinha Real sempre mantém uma parte dos submarinos nucleares do programa
Trident espalhados por oceanos do mundo - mantendo o que se conhece por
"dissuasão contínua no mar".
Mísseis intercontinentais viajam a
uma velocidade superior a 27 mil km/h voando acima da atmosfera da Terra antes
de mergulhar sobre seus alvos a 6,4 quilômetros por segundo.
O tempo de voo desses mísseis
entre a Rússia e os Estados Unidos é de 25 a 30 minutos. No caso de submarinos
nucleares - que podem se aproximar secretamente da região costeira do país
inimigo, o tempo de vôo é menor: cerca de 12 minutos.
Isso não deixa muito tempo
disponível ao presidente para decidir se trata-se de um alarme falso ou um
Armagedom iminente. Uma vez que um míssil nuclear tenha sido lançado, não pode
retornar - e se ficar em seu silo, provavelmente será destruído pela primeira
onda de ataque inimigo.
Segundo uma autoridade de alto
escalão da Casa Branca, a decisão depende muito das circunstâncias em meio às
quais ocorreria a ameaça.
No caso de tratar-se de uma
decisão política calculada minuciosamente de realizar um ataque preventivo
contra um país X, então uma grande quantidade de pessoas seria envolvida. O
vice-presidente, o conselheiro de Segurança Nacional e a maior parte do
gabinete do governo provavelmente estariam na sequência do processo de decisão.
Mas se houver uma ameaça
estratégica iminente aos Estados Unidos, se um lançamento de míssil de uma
nação hostil fosse detectado e estivesse a minutos de atingir os Estados
Unidos, a fonte afirmou: "O presidente tem liberdade extraordinária para
tomar a decisão individual de lançar."
Por BBC
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