China passou
a transmitir ao vivo pela internet uma série de
julgamentos (Foto: China People's
Court/ Reprodução/ BBC)
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Em um país criticado pela falta de
transparência, medida gera elogios, mas também questionamentos por expor
privacidade dos réus.
Tentando injetar transparência em
seu criticado sistema judiciário, a China passou a transmitir ao vivo pela
internet uma série de julgamentos, que vão de divórcios a casos de
assassinatos.
As sessões estão sendo
transmitidas através do website tingshen.court.gov.cn. Algumas podem ser
acessadas ao vivo via streaming, enquanto outras são gravadas.
O usuário que entra no site pode
mover o cursor de seu mouse pelo mapa da China para selecionar a província onde
os julgamentos estão acontecendo. Ao lado, há uma barra de rolagem com vários
tribunais e o número de audiências já transmitidas em cada um deles.
Ao escolher um deles, o usuário
tem uma visão geral de cada uma das sessões: a perspectiva da defesa, juízes e
advogados. Em alguns casos, os julgamentos podem ser assistidos novamente mesmo
depois de terem terminado.
Abertura controlada
Um julgamento na China não pode oficialmente ser descrito como "fechado", mas isso não significa que qualquer um possa entrar e acompanhar.
Um julgamento na China não pode oficialmente ser descrito como "fechado", mas isso não significa que qualquer um possa entrar e acompanhar.
Cada tribunal tem um sistema
diferente para decidir quem está ou não autorizado a entrar. Em algumas
ocasiões, até os membros da família são proibidos de acompanhar as audiências.
Em um país onde um jornalista em
busca de informação se sente como dando murro em ponta de faca, esse novo
dispositivo aparenta ser sofisticado, além de aberto.
Mas isso não significa que todos
os julgamentos vão ser transmitidos. Alguns casos políticos e polêmicos
permanecerão em segredo.
Para o presidente da Suprema Corte
Popular da China, Zhou Qiang, o site de transmissões ao vivo "garante o
direito das pessoas de ter acesso às informações e supervisionar".
Segundo ele, pode também ajudar os
chineses a se informar melhor sobre o que está acontecendo no país, contornando
o filtro imposto pela mídia, que é controlada pelo Estado.
Zhou acredita que as transmissões
podem ajudar na compreensão de como opera o sistema legal da China - e que não
deve demorar para que os observadores mais entusiastas percebam que os réus
quase sempre perdem os casos no país.
Questão de privacidade
A advogada Lu Miaoqin já trabalhou em casos importantes, incluindo o de uma mulher que foi demitida por ser lésbica. Para ela, o streaming é bem vindo porque "faz com que os advogados sejam mais profissionais".
A advogada Lu Miaoqin já trabalhou em casos importantes, incluindo o de uma mulher que foi demitida por ser lésbica. Para ela, o streaming é bem vindo porque "faz com que os advogados sejam mais profissionais".
Mas outros são mais cautelosos.
"Eu não acho apropriado transmitir julgamentos porque muitas das pessoas
envolvidas nesses casos provavelmente não querem dividir suas informações
pessoais com o público", disse à BBC o advogado de direitos humanos Liang
Xiaojun.
Já o advogado Zhang Yangfeng
consegue ver o lado positivo e negativo da iniciativa. "Isso é uma forma
de garantir que a Justiça não seja corrupta e pode prevenir a manipulação de
julgamentos", disse.
"Por outro lado, pode usurpar
a privacidade das pessoas. Para aqueles jovens que cometem crimes pequenos,
seus erros são normalmente perdoados e esquecidos, mas agora eles se tornam
públicos."
Há diferenças no uso dessa
ferramenta de província para província. Jiangsu, por exemplo, um local próspero
na costa leste ao norte de Xangai, ou Guangdong, perto de Hong Kong, são
pioneiras nessa iniciativa. Já o Tibete, Xinjiang e outras áreas mais remotas
ainda não transmitem para o site.
Em um país onde o segredo parece
ser a regra, e a falta de acesso a informações, um modo de vida, o site pode
ser considerado um passo em uma outra direção.
A maioria dos observadores avalia
que, sob a liderança do presidente Xi Jinping, a China se tornou mais linha
dura. As prisões de advogados de direitos humanos e outros ativistas em tempos
recentes são argumentos que reforçam essa tese. Nesse contexto, o site nada
contra a correnteza.
BBC News ,Beijing
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