Manifestantes
queriam pressionar as autoridades eleitorais a realizar
ainda este ano um referendo para tentar
revogar o mandato
de Maduro
(Foto: Federico Parra/AFP)
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Manifestantes queriam pressionar
autoridades eleitorais a realizar ainda este ano um plebiscito para tentar
revogar o mandato de Maduro.
A fila para comprar pão de manhã
em Caracas nesta quinta-feira (1º) era menor do que o habitual. Vestidas de
branco, muitas pessoas passavam direto, porque o objetivo delas era outro:
tentavam chegar aos pontos marcados pela oposição para protestar contra o
governo da Venezuela.
Milhares de partidários da
oposição saíram às ruas da capital para participar da chamada "Tomada de
Caracas", um prostesto para pressionar as autoridades eleitorais a
realizarem ainda este ano um plebiscito revogatório contra o presidente Nicolás
Maduro.
Era a parte final de uma jornada
de manifestações majoritariamente pacíficas. Na praça Altamira, uma das mais
emblemáticas da capital, pessoas de todas as idades cantaram, gritaram e
passaram calor até que uma chuva caiu para refrescá-los.
"Vai cair, vai cair! Esse
governo vai cair!", gritavam dezenas de adolescentes carregando uma
bandeira gigante da Venezuela em direção às forças de segurança que bloqueavam
um dos acessos da marcha.
"Estou aqui porque quero que,
com essa marcha, o governo entenda que a única coisa que queremos é que o
mandato (de Maduro) seja revogado, algo que está contemplado na Constituição e
é um direito consagrado", disse Arminda Farias, que participava do
protesto.
"Queremos paz. Queremos ter
não a Venezuela de antes, mas uma melhor. Queremos um futuro para minhas filhas
e meus netos. Sei que o governo não vai nos escutar, mas esse é meu grãozinho
de areia de esperança, e é por ele que estamos todos aqui", afirmou, com um
certo ar de resignação, um sentimento compartilhado por outros manifestantes.
Ao menos 40 pessoas foram detidas
no protestos, segundo a ONG Foro Penal Venezuelano, e a polícia usou bombas de
gás para tentar controlar os manifestantes.
Enquanto isso, em outro ponto da
cidade, a legenda governista Partido Socialista Unido da Venezuela organizou
uma manifestação na Avenida Bolívar, uma das principais de Caracas.
Maduro foi à concentração e disse
que, nesta quinta-feira, tinha triunfado a paz e que a tentativa golpista havia
sido derrotada. "Viemos até aqui cantando o canto da vitória e da
paz", disse o presidente.
Maduro fez vários ataques contra o
presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, dizendo que ele quer
desestabilizar o país, e anunciou estar pronto para aprovar um decreto que
retira a imunidade parlamentar de todos os deputados venezuelanos. "A
imunidade foi criada para que se faça cumprir as leis, não para
violá-las."
O anúncio do presidente foi visto
como um "disparate" por Ramos Allup. "Ele está em um momento de
angústia e com os nervos à flor da pele, porque viu que não são os partidos
políticos, mas a população que quer colocar em prática o plebiscito, que é um
direito constitucional."
A manifestação desta quinta foi
convocada há várias semanas e mobilizou partidários de várias partes do país. O
governo declarou que o verdadeiro motivo da convocação era planejar a execução
de um golpe de Estado.
A oposição rechaçou a acusação e afirmou
que o governo usou vários artifícios para dificultar a vinda de outros
participantes de outros pontos do país para participar da marcha.
Data limite
O prostesto tinha como objetivo
pressionar o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para marcar uma data para um
plebiscito revogatório do mandato de Maduro, uma medida que a oposição vem
pedindo desde abril.
O plebiscito é um mecanismo
previsto pela Constituição para, por votação popular, tirar do poder um
presidente, uma vez que ele tenha superado a metade do período para o qual foi
eleito.
Mas, se quiser uma mudança real no
governo, a oposição precisa que ele seja realizado antes de 10 de janeiro de
2017.
Isso porque a Constituição
venezuelana estabelece que o vice-presidente deve assumir a gestão se o
plebiscito for realizado após a metade (dois anos) do mandato do presidente -
como o vice atual é governista, caso isso ocorra, o partido de Maduro continuaria
no poder até o final do atual período de governo, em 2019.
Por isso, correr contra o tempo é
crucial para os oposicionistas, que pleiteiam que o plesbicito ocorra ainda
neste ano e prometem novos protestos populares.
A pressão sobre Maduro deve crescer,
mas a oposição também tem um longo caminho pela frente para aprovar, de fato, o
plebiscito.
A presidente do CNE, Tibisay
Lucena, sinalizou que a possibilidade de que a coleta de assinaturas possa ser
feita no final de outubro, o que colocaria em risco o objetivo da oposição de
que a consulta seja realizada ainda neste ano. Lucena também já disse que o CNE
não aceitará pressão e que os prazos serão seguidos.
Já o governo disse há meses que o
plebiscito não acontecerá em 2016 e culpou a oposição por ter apresentado a
petição em abril e não em janeiro. Um novo protesto foi marcado para 14 de
setembro.
BBC Mundo Caracas
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