Jorgina e o
advogado José Guilherme Costa de Almeida
Foto: Wilson
Aquino / Agência O Dia
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Quatro anos após cumprir pena,
advogada entrega hoje imóvel de 650 metros quadrados
Apontada como maior fraudadora da
Previdência Social, Jorgina de Freitas vai sofrer um duro golpe hoje. Ela será
despejada do casarão de sete quartos, cinco banheiros, piscina e varandas de
inverno, onde vivia em Petrópolis, na Região Serrana do Rio. O imóvel, que tem
650 metros de área construída, fica em uma área nobre da cidade e foi leiloado
em novembro de 2014 por R$ 499 mil. Apesar de deteriorado, foi um preço vil,
segundo Jorgina, que colocou um cartaz na fachada do casarão, denunciando que,
pelo valor de mercado, a casa valeria R$ 1,8 milhão.
Ela alega ainda que o imóvel não
poderia ter sido tomado pela Justiça. “O termo do sequestro isentou a casa
porque foi adquirida em maio de 1988 e os bens a serem sequestrados são os
adquiridos a partir de novembro de 1989”, protesta, afirmando que o imóvel nem
era dela. “Essa casa não me pertence. É dos meus filhos. Daí, a minha luta”.
Na década de 1980, Jorgina,
segundo a Justiça, liderou uma quadrilha de 25 pessoas – entre juízes,
advogados, procuradores do INSS, contadores e peritos – que se organizou para
desviar R$ 1 bilhão dos cofres públicos, em valores atualizados. Ela fugiu do
Brasil e depois de rodar por alguns países, acabou entregando-se às autoridades
da Costa Rica, de onde foi extraditada.
Condenada a 12 anos de cadeia,
cumpriu sete meses a mais (saiu em 2011), porque nenhum juiz queria assinar seu
alvará de soltura. Não teve direito a progressão de regime e nem a saídas para
passar o Natal com a família. “Isso é inédito no Brasil”, destaca o advogado
dela, José Guilherme Costa de Almeida.
Jorgina caiu atirando. Em entrevista
exclusiva ao DIA, ela levanta suspeitas sobre a lisura dos leilões de seus bens
(60 imóveis, alguns em endereços nobres como Avenida Delfim Moreira, no Leblon,
e Búzios, na Região dos Lagos) e denuncia que pelo menos 13 milhões de dólares
que mantinha no exterior desapareceram, ao invés de serem devolvidos à
Previdência. “Ninguém sabe onde está esse dinheiro!”.
Jorgina
colocou na frente da casa uma faixa em que afirma
que o imóvel
foi avaliado em R$ 1,8 milhão, mas leiloado
pela Justiça por R$ 499 mil
.(Foto: Wilson Aquino/Agência O Dia)
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Sem falar nos R$250 milhões
(valores atuais) que ela diz ter depositado em juízo para garantir o
ressarcimento do INSS e evitar o sequestro de seu patrimônio. “É estranho que a
Previdência não tenha tido controle desses valores devolvidos”, dispara.
Apesar da condenação e cumprimento
da pena, a advogada briga. “Fui à OEA (Organização dos Estados Americanos)
denunciar e a ação está correndo”. O Tribunal de Justiça do Rio e a
Advocacia-Geral da União não atenderam ao pedido de entrevista. Explicaram que
estão em recesso.
Como era a fraude no INSS
Nos anos 80, juízes, advogados e
servidores da Previdência, no Rio, desfalcaram os cofres do INSS em cerca de
R$1 bilhão.As fraudes aconteciam nos pagamentos de acidente de trabalho. A
quadrilha acionava o INSS em nome de trabalhadores humildes, alguns inválidos,
para conseguir indenizações milionárias. O grande golpe acontecia no momento
dos cálculos referentes às correções de benefícios e pagamentos de atrasados.
Os advogados, como Jorgina, moviam as ações e sempre ganhavam. O contador,
responsável pelo cálculo das indenizações, colocava zeros ou atualizava o que
não era para atualizar. Procuradores do próprio INSS, envolvidos no esquema,
não contestavam as ações. Autoridades do Judiciário, como o juiz Nestor José do
Nascimento, mandavam pagar tudo em 24 horas. Grandes quantias eram repartidas
entre os membros da quadrilha e, na maioria das vezes, o beneficiário não o
dinheiro.
AGU ainda tenta reaver dinheiro
Os crimes atribuídos à quadrilha
de Jorgina são da década de 1980, mas até hoje a Advocacia-Geral da União
(AGU)continua brigando na Justiça para reaver bens e dinheiro.A AGU garante que
mais de R$ 156 milhões já foram recuperados para os cofres públicos, com a
venda de bens, repatriação de dinheiro depositado em contas no exterior e
penhora de joias de integrantes do grupo criminoso.
Entre os imóveis leiloados que
estavam em nome de Jorgina, constam dois apartamentos na Avenida Delfim
Moreira, Leblon, três casas e cinco lotes, em Búzios, e três casas e um prédio
inteiro, em Petrópolis, além de fazendas, salas e lojas. “Fui julgada,
condenada, cumpri minha pena e a Previdência Social, que arrecadou todos os
meus bens, está vendendo os imóveis por preço vil”, critica.
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