Luiz Fernando
Costa diz que evita dirigir pela via onde ocorreu o acidente.
Com sequelas e
perdas, vítima pede reparação na Justiça.
Era um dia
normal de trabalho que se transformou em uma tragédia. Na terça-feira, dia 28
de janeiro de 2014, uma passarela foi arrastada por um caminhão de entulho que
estava com a caçamba levantada, trafegando pela Linha Amarela em horário não
permitido. Cinco pessoas morreram e quatro ficaram feridas em um acidente que
chocou a cidade.
Luiz Fernando
Costa, motorista do caminhão, está sendo acusado na Justiça por homicídio
culposo e lesão corporal culposa. Um ano após a tragédia, em entrevista
exclusiva ao G1, ele diz que continua trabalhando atrás de um volante, agora
dirigindo um caminhão-guindaste por vários bairros do Rio.
Uma via, no
entanto, continua sendo vista com medo. "Tento evitar ao máximo a Linha
Amarela. Quando ando nela, vou com medo", diz o motorista, que afirma que
trabalha sem ter a carteira de trabalho assinada. "Faço isso como bico
para sobreviver, tenho duas filhas para criar", explica ele.
Luis afirma que
conseguiu uma habilitação no Detran para dirigir caminhões, após pedir uma
segunda via no órgão em março de 2014, dois meses após o acidente. "Não
havia nenhum processo e na minha carteira, então eu pedi uma segunda via",
explica.
O motorista
admite que estava falando em um rádio-comunicador no momento do acidente e que
errou ao pegar a Linha Amarela, já que a circulação de caminhões na área só
seria permitida a partir das 10h daquela terça-feira. "Eu estava falando
com um amigo meu que o filho havia desaparecido, e passei por ali exatamente
para cortar caminho... Para ir para a rodoviária [que fica na Zona
Portuária]", afirma.
Por meio de sua
assessoria, o Detran não informou se Luiz Fernando Costa tem algum auto de
infração registrado em sua carteira de habilitação. Em nota, o órgão
acrescentou que o processo administrativo de suspensão do direito de dirigir de
um condutor infrator, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e da
Resolução Contran, só é instaurado depois de esgotados todos os meios de defesa
das infrações. Ainda segundo o Detran, o condutor tem três chances de recorrer
no õrgão. Portanto, enquanto a carteira não for suspensa, o condutor poderá
renovar sua CNH nos trâmites normais. Já o motorista explicou que não tem
nenhuma multa registrada em sua carteira.
'Minha vida quase acabou'
As cicatrizes
no braço após a fratura exposta e a marca do dreno do tórax são, para Jairo
Zenatti, de 44 anos, a lembrança constante da tragédia em que quase morreu.
"Tive perda de memória, quebrei nariz, globo ocular, tive que fazer dreno
de pneumotórax, quebrei três vértebras. Minha vida quase acabou", contou
Jairo ao G1. Ele conta que viajava de moto para Jacarepaguá, no sentido
contrário ao caminhão de Luis Fernando Costa.
"Na hora
em que eu ouvi o estrondo e vi aquela sombra vindo para cima, acelerei para
tentar passar por baixo, mas fui atingido pelo piso da passarela. Quando
acordei, cuspi sangue e tentei mexer o braço, mas não consegui", relata
ele, que foi levado para o Hospital Federal de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio
e passou por cinco horas de cirurgia. Após quatro dias, ele foi levado para um
hospital particular. Ao voltar para casa, a recuperação foi difícil.
"Eu morava
em um lugar sem elevador, então era difícil subir até o apartamento. Tenho duas
filhas para criar, minha mulher teve que sair do trabalho para cuidar de mim,
praticamente só posso andar de táxi até hoje, tive problemas na fisioterapia e
fiquei 7 meses afastado do trabalho", diz ele, emocionado. "Só estou
aqui pelas minhas filhas e pela força do espírito".
Jairo vai
entrar com uma ação por danos morais e patrimoniais contra a empresa de entulho
Terra Prometida, a Lamsa, concessionária que administra a Linha Amarela.
"Ele teve perdas patrimoniais, não conseguiu pagar o aluguel porque tinha
que andar o tempo todo de táxi, e não teve nenhuma ajuda vinda da empresa ou da
Lamsa", afirma Alexandre Goldberg, advogado de Jairo. Trabalhando
atualmente em serviços administrativos em uma empresa da área de combustíveis,
ele diz que o motorista tem de pagar pelo que fez, mas não sente raiva. "Ele
foi imprudente, mas não posso viver com rancor", avaliou.
O amigo de uma
das vítimas, Adriano Oliveira, de 26 anos, conta que o dia da tragédia quase se
repetiu nesta segunda-feira (26). "Um caminhão ficou a dois dedos de bater
exatamente na mesma passarela, também de manhã. Foi um absurdo o que aconteceu,
tentei com a ajuda de outros salvar o Adriano, mas não teve jeito", lembra
Paulo Ivair dos Santos, morador de Irajá.
Mortes ainda atormentam motorista
A morte de
cinco pessoas no acidente ainda atormenta Luiz, que afirma que gostaria de
encontrar as famílias das vítimas. "Nunca quis ver e não sei se vou
conseguir ver as imagens do acidente. É difícil, queria explicar que foi uma
falha mecânica, mas as pessoas devem estar com muita raiva de mim", diz ele,
que se emociona e chora ao falar dos mortos. "É complicado, é
complicado".
O advogado de
Luiz Fernando, Jaime Ângelo Nonato Fusco, diz que vai pedir uma nova perícia do
caminhão que se envolveu no acidente. Durante as investigações da 44ª DP, ficou
comprovado depois que o veículo estava em alta velocidade, e o Ministério
Público denunciou o motorista. "Queremos provar que o carro estava com
problemas mecânicos já há muito tempo, inclusive na semana anterior, quando a
caixa de marcha caiu, e que a caçamba só levantou devido a esse problema".
O motorista nega que estivesse em alta velocidade. "Estava a 80 km/h, 85
km/h, por aí", diz.
O motorista não
foge às perguntas sobre o acidente, mas também se diz vítima da empresa Arco da
Aliança. Ele afirma que foi demitido enquanto ainda estava no Centro de Terapia
Intensiva do Hospital do Coração de Duque de Caxias, o HScor. "Tive
fratura na coluna, problemas cardíacos e operei o fígado. No meio de tudo isso,
me mandam embora?", questiona ele. "Fiquei muito revoltado, não
esperava isso da empresa. Estava trabalhando havia praticamente 21 horas na
hora do acidente, e fazia isso o tempo todo", desabafa. "Era um dia
normal que se transformou em uma tragédia. Me arrependo muito de ter pegado a
Linha Amarela naquele dia. Não consigo dormir depois disso", diz ele. Após
uma audiência no dia 25 de novembro, uma nova audiência de instrução e
julgamento para o caso de Luiz Fernando Costa está marcada para o dia 9 de
abril.
Empresa não comenta
A empresa Arco
da Aliança, para quem Luis Fernando Costa prestava serviço no momento do
acidente, declarou que não iria comentar as declarações de Luis Fernando Costa
e das vítimas do acidente e as ações judiciais movidas por estas contra a
empresa.
A Lamsa,
concessionária que administra a Linha Amarela, afirmou, em nota, que ao
constatar a presença de caminhões trafegando fora do horário permitido, entre
6h e 10h, avisa ao Batalhão de Policiamento de Vias Especiais (BPVE), que é
responsável pela fiscalização da via. A empresa afirma que ofereceu apoio
médico às vítimas e auxílio funeral para todas as famílias de vítimas fatais.
Em relação a
eventuais processos judiciais, a empresa está tomando as medidas cabíveis. A
empresa diz ainda que instalou um limitador de altura em fevereiro, ainda
quando havia uma passarela provisória após a tragédia, além de dois radares
móveis em Bonsucesso. Segundo a Concessionária, foram aplicadas 6791 multas por
circulação de caminhões em horário restrito em 2014.
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